Líder empresarial francês é contra redução da jornada de trabalho no Brasil

26/03/2004 - 18h09

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O presidente do Movimento das Empresas Francesas(MEDEF), maior entidade empresarial da Europa, Ernest-Antoine Seillière, disse que vê, com certo temor, a proposta de redução da jornada de trabalho no Brasil de 40 horas para 35 horas semanais, conforme proposto na reforma trabalhista que se acha em discussão.Ele participou de encontro na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) para tratar o tema.

Ele baseou a avaliação na experiência realizada na França no final dos anos 90, que diminuiu a jornada de 39 horas para 35 horas semanais, mas sem obter, entretanto, os objetivos desejados de redução do desemprego. Segundo afirmou Seillière, ocorreu sim crescimento do emprego após a adoção da medida, mas "foram muitos empregos para uns e nenhum emprego para outros".

O presidente do MEDEF afirmou que, se as forças sociais brasileiras querem reduzir a jornada para 35 horas, "podem começar a se preocupar em relação ao futuro". Revelou que, na França, apenas as grandes organizações puderam obter compensações pelo prejuízo decorrente da adoção da medida, tendo em vista que a jornada diminuiu, mas os empresários tiveram que continuar pagando por 39 horas de trabalho.

Na maioria dos casos, porém, o que houve foi uma redução dos aumentos salariais, resultando em perda do poder de compra do assalariado. A redução da jornada acarretou redução dos investimentos em pesquisas e em inovação pela impossibilidade de reduzir o preço dos produtos.

Admitiu que, por volta de 1997, quando a Europa estava num processo de grande expansão econômica, aconteceu uma significativa criação de empregos entre 1998 e 2000, que foram atribuídos à jornada de 35 horas. Na verdade, porém, disse que a taxa de desemprego na França não diminuiu em relação à média européia. Acrescentou que "se o Brasil escolher o caminho das 35 horas, desejarei muitas felicidades!".

Ernest-Antoine Seillière afirmou que Brasil e França têm a mesma visão de que a globalização deve respeitar a identidade das regiões e dos povos, baseando o desenvolvimento no tripé formado por crescimento, justiça social e estabilidade.

Ele demonstrou sua satisfação ao ver que o Brasil é governado por um homem de estado, que parecia a principio um "dogmático idealista", mas que se revelou um socialista realista. "E no MEDEF nós gostamos da esquerda que compreende a direita que ousa", assegurou.