Brasília, 26/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Uma equipe de fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego encontrou 14 trabalhadores em situação análoga à escravidão na Fazenda União, no município de Araruama, Região dos Lagos do Rio de Janeiro. São duas famílias - quatro adultos e dez crianças - com idade entre 4 e 13 anos, que viviam em casebres sem a mínima condição de higiene.
Nas casas, não há banheiro, luz e camas, e a água, de cor cinza-escuro, era retirada de um poço e utilizada para beber e cozinhar. As crianças não tinham salário, mas ajudavam no trabalho. Seus pais recebiam cheques de R$ 112,00, por quinzena, e eram obrigados a descontá-los em dois mercados em São Vicente de Paulo, uma vila no município de Araruama. Recibos de salário foram encontrados sem o valor pago, mas assinados pelos trabalhadores.
"Esses trabalhadores, além de receber abaixo do salário mínimo regional e nacional, tinham que assinar recibos sem valor, o que é uma fraude. O proprietário podia preenchê-los com o valor que bem quisesse", disse o auditor-fiscal do Trabalho, Guilherme Moreira. O dono da fazenda alegou que as crianças estudavam, mas segundo o auditor, as famílias informaram que, durante o período de colheita da laranja, até as menores com 4 e 5 anos trabalhavam.
A equipe de fiscalização do Ministério do Trabalho percorre fazendas da região desde o início da semana. Foram encontrados outros 41 trabalhadores em situação degradante em quatro fazendas, localizadas uma ao lado da outra, denominadas União, Beira Rio, Lagoa e Espírito Santo, do mesmo proprietário, Francisco Vieira da Silva.
Os trabalhadores utilizavam produtos agrotóxicos sem nenhuma proteção. "Não encontramos nenhum equipamento de proteção individual, eles pegavam com a mão, sem luvas, uréia fertilizante e jogavam nos laranjais", disse Guilherme. O proprietário foi levado para o posto de atendimento da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) em Araruama, onde foi autuado. Ele será obrigado a pagar as indenizações trabalhistas e registrar todos os empregados, além de reformar a casa utilizada como moradia pelos trabalhadores.
As informações são do Ministério do Trabalho e Emprego.