São Paulo, 27/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - O chefe da Casa Civil da Presidência da República, ministro José Dirceu, afirmou hoje, ao fazer um balanço da política brasileira, que o governo atual já fez "mais do que era possível". Ao participar do XXII Congresso da Internacional Socialista, José Dirceu lembrou as circunstâncias em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva encontrou o país, classificando-as de resultado de uma herança "maldita", com crises sociais e com o "desmantelamento do estado brasileiro".
Segundo o ministro, o trabalho do governo Lula para reorganizar o aparelho de estado e a administração pública é importante para criar uma base para a retomada do projeto de desenvolvimento nacional. O país teve de enfrentar um ajuste econômico com superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) e cortes de R$ 14 bilhões no orçamento. Entretanto, ressaltou José Dirceu, a inflação foi reduzida e deve fechar o ano em torno de 8%. Para 2004, a estimativa é de 6%.
Ele disse que, no próximo ano, o Brasil terá de alcançar superávit comercial no valor de US$ 48 bilhões para fechar sua conta corrente. Sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Dirceu defendeu a manutenção da unidade interna do país através de alianças políticas para que, dessa forma, as alianças dêem ao país condições de enfrentar o desafio externo da integração na América do Sul. Para o ministro, o Brasil pode ter dois caminhos na Alca: um caminho que inviabilizaria a retomada do projeto de desenvolvimento nacional e outro que poderia fortalecer esse projeto. Por isso, explicou, o país optou por realizar uma negociação associativa com Argentina, Uruguai e Paraguai, abrangendo o G-22. "Não é mais possível, e não há como os países da America Latina e os países em desenvolvimento aceitarem as atuais regras do comércio internacional", afirmou o ministro.
José Dirceu disse também que não é possível aceitar um acordo que poderá desenhar uma possibilidade e uma probabilidade de cada país se desenvolver nos próximos 25 anos, sem nenhuma reciprocidade com relação à dívida dos países, acesso aos mercados, acesso à tecnologia e investimentos. Na opinião do ministro, o desafio que o país tem pela frente não se resolve sem uma grande mobilização nacional. Não se trata de uma questão técnica ou política, explicou. "A eleição do presidente Lula significou uma repactuação da sociedade brasileira, que disse não ao neoliberalismo, e reconheceu no PT condições para retomar os objetivos nacionais", afirmou o ministro, exemplificando com o combate à fome e à pobreza e a questão da reforma agrária.
"O tempo, de certa forma, conspira contra nós. A urgência dos famintos, dos deserdados, daqueles que não tinham nem voz, nem vez, não é a urgência da racionalidade econômica, nem da engenharia política", concluiu o ministro.