Porto Alegre, 27/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - O governo federal vai investir R$ 1 milhão para transferir tecnologia e desenvolver novas pesquisas nos 284 assentamentos do Rio Grande do Sul. Para tanto, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, assinou convênio com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que vai realizar pesquisas do solo, clima e cultura, visando ao acesso da produção dos pequenos agricultores ao mercado.
"A idéia é beneficiar as mais de 11 mil famílias que vivem nos assentamentos com informação qualificada, criando instrumentos de qualidade e inclusão social, além de assegurar o acesso à terra e de fortalecer a reforma agrária", afirmou Rossetto. Ele explicou que o trabalho desenvolvido nos assentamentos do Rio Grande do Sul vai servir de base para convênios semelhantes que serão implantados nos demais estados do país.
Os colonos gaúchos esperam aumentar a produção, com o uso dos novos cultivares e tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, às quais não tinham acesso até agora.
"Para nós, agricultores e camponeses, esse convênio significa acesso a tecnologias da Embrapa, acumuladas por vários anos de estudos, como melhorias na área de sementes, solo e genética animal, que podem chegar até nós, para melhorarmos a nossa produção", disse Mário Luis Lill, do assentamento 16 de Março, localizado em Portão, no norte do Estado.
Segundo Lill, que também produz leite, soja, milho e trigo, a Embrapa sempre esteve dirigida para o agronegócio dos grandes produtores. "Colocar essa mesma tecnologia à disposição da agricultura familiar camponesa é fundamental para a viabilidade econômica dos assentamentos da reforma agrária e cria uma expectativa muito grande entre os pequenos produtores", afirmou. Para ele, a primeira melhoria, com o auxílio da Embrapa, será na produção de sementes e na qualidade genética de suínos para o abate, uma das principais criações do assentamento.
E foi o que garantiu, por sua vez, o diretor-presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, durante a cerimônia, na sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ele disse que o convênio, inédito no país, é o ponto de partida para uma nova forma de trabalho com os assentados, transferindo sementes e material genético, além de resgatar conhecimentos que se perderam ao longo do tempo. "Estamos criando uma interação maior com os assentados e com a agricultura familiar, dando início formal a um processo em que a Embrapa faça a diferença num segmento que, historicamente, não teve acesso à tecnologia".
Campanhola disse ainda, que a idéia é que os agricultores também consigam melhorar a renda e qualidade de vida, que é o objetivo principal de qualquer processo de assentamento de reforma agrária. Ele prometeu repassar inicialmente, milho, feijão, arroz, fruteiras nativas, hortaliças e demais sementes geradas pela empresa, dependendo do interesse dos agricultores, e da importância no mercado local, para melhor comercialização dos produtos.
Segundo o superintendente regional do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra/RS), César Aldrighi, o convênio vai permitir a contratação de 27 profissionais para atuar com os 120 técnicos que acompanham os assentamentos, nas seis regiões de atuação do instituto, que abrange 82 municípios do estado. Eles vão identificar as potencialidades de cada região, dar cursos de formação, assistência técnica e acompanhamento para as famílias. O trabalho prático inicia na próxima semana, com projetos para a produção de frangos e leite, quando serão distribuídos 4 mil kits de sementes de milho e feijão para os agricultores assentados.