Brasília, 24/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O seminário "Josué de Castro – Sua obra no contexto da Segurança Alimentar" foi aberto na noite desta terça-feira em Brasília. O objetivo do evento é promover debates que abordem a atualidade da obra de Castro no desenvolvimento de políticas públicas de combate à fome.
Durante a cerimônia de abertura, a socióloga Anna Maria de Castro proferiu palestra sobre a biografia do homenageado. Filha de Josué, a socióloga definiu a importância da obra do pai no combate à fome. "A idéia da busca de auto-sustentabilidade em pequenas comunidades não se referia apenas à fome de comida, também falava da carência de conhecimento e de liberdade. Era um projeto integrado de resgate de uma população miserável. Infelizmente, o problema permanece até hoje", critica a socióloga.
Josué de Castro criou uma das primeiras organizações não-governamentais do mundo para desenvolver esse projeto: a Associação Mundial de Luta contra a Fome. "Ele foi um homem à frente do seu tempo, mostrou caminhos. Nossos dirigentes teriam menos problemas hoje se tivessem escutado o que ele disse 50 anos atrás", enfatiza Anna Maria de Castro. Como exemplo, podem-se citar projetos como a merenda escolar e a iodização do sal, criações de Josué de Castro que beneficiam milhões de brasileiros há décadas.
O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, José Tubino, destacou a atualidade das idéias de Castro comparando-as ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembléia Geral das Nações Unidas. "Lula afirmou que a guerra contra a fome é a única batalha em que todos são vencedores". Segundo Tubino, essa é a essência da obra de Castro e está norteando as políticas do atual governo. "Castro lembrava que fome não é apenas um problema de falta de alimento, mas também de injustiça social. Essa é a orientação do Fome Zero", afirmou o representante da FAO.
Josué de Castro nasceu em Recife, em 1908, e faleceu em 1973, durante o exílio, em Paris. Foi médico, geógrafo, professor catedrático e deputado federal por dois mandatos. De 1952 a 1964, presidiu o Conselho Executivo da Food and Agricultural Organization (FAO). Em 1960, lançou a Campanha Mundial contra a Fome. Após o golpe de 1964, demitiu-se do cargo de embaixador do Brasil em Genebra e partiu para o exílio em Paris. Castro foi o primeiro brasileiro a ter o nome indicado para o Prêmio Nobel e concorreu em três oportunidades: em 1954, para o Nobel de Medicina, e em 1963 e 1970 para o Nobel da Paz. Sua principal obra, "Geografia da Fome", foi traduzida para 24 idiomas e encontra-se na 35º edição.
O seminário "Josué de Castro – Sua obra no contexto da Segurança Alimentar" será realizado até quinta-feira, no Auditório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Rafael Gasparotto