Polêmica marca audiência pública sobre construção de Andra III

24/09/2003 - 17h14

Brasília, 24/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - A audiência pública sobre a política nuclear brasileira, realizada hoje, na Câmara dos Deputados, foi marcada por informações desencontradas e pela troca de acusações entre defensores e opositores da retomada do programa nuclear pelo país e da implantação da Usina Nuclear de Angra III.

Os argumentos expostos por representantes da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), da Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear), do Greenpeace e do Fórum Brasileiro de ONGs, acabaram por favorecer ainda mais a polêmica em torno da questão. A audiência chegou a ser interrompida por alguns minutos por conta de uma manifestação feita por militantes do Greenpeace que portavam cartazes sobre o acidente nuclear de Chernobyl, na ex-União Soviética.

O presidente da Eletronuclear, Ziele Dutra, abriu a audiência afirmando que nunca houve qualquer registro de vazamento de radioatividade nas usinas brasileiras e que não existe a menor possibilidade disso vir a acontecer no país. Ele defendeu a construção de Angra III e destacou vários benefícios da energia termonuclear para o desenvolvimento nacional, como baixo custo, fornecimento ininterrupto, segurança operacional e o fato de ser uma energia limpa.

Segundo Ziele Dutra, sem as usinas de Angra I e II, o apagão ocorrido recentemente no Brasil teria sido muito pior: "as duas usinas cobriram parte da deficiência energética do Rio de Janeiro", afirmou, ressaltando que Angra II é a 16ª usina do mundo em qualidade e desempenho energético, e que suas instalações são rigorosamente fiscalizadas por organismos nacionais e internacionais de segurança. Para ele, é importante que o país complemente seu potencial hidroelétrico ampliando a base de geração de energia térmica.

O diretor-executivo do Greenpeace no Brasil, Frank Guggenheim, rebateu todos os argumentos apresentados pelo presidente da Eletronuclear e classificou a energia nuclear como uma atividade cara, perigosa, suja e ultrapassada. Para ele, defender a construção de Angra III é andar na contramão da história, já que todos os países do mundo estão desativando seus programas de geração termonuclear.

Na opinião de Guggenheim, o programa nuclear brasileiro é um "dreno financeiro", economicamente inviável e as usinas nacionais, como todas as outras do mundo, têm alto risco de acidentes. Ele criticou o investimento de US$ 20 bilhões feito pelo governo para a construção das duas unidades e afirmou que o dinheiro teria sido muito melhor aplicado na geração de outras fontes de energia.

Terceiro expositor da audiência, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen, Alfredo Tranjan Filho, também defendeu a construção de Angra III e destacou a posição estratégica do Brasil na geração de energia termonuclear. "Temos a sexta maior reserva de urânio do mundo e potencial para sermos exportadores de energia", destacou. Segundo Tranjan Filho, hoje existem 441 usinas nucleares operando em 30 países e outras 33 em construção, o que comprova a viabilidade econômica e energética do empreendimento.

Representando o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, o coordenador-geral da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica, Ivan Marcelo Neve, foi enfático ao expor a posição dos ecologistas e moradores de Angra dos Reis: "Não queremos e não precisamos de Angra III", afirmou, para, em seguida, pedir aos deputados membros das comissões que vetem o projeto de construção de mais uma usina nuclear no país.

A audiência pública conjunta foi promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias em parceria com a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara.