Passado e futuro da arquitetura se encontram na Bienal de São Paulo

24/09/2003 - 10h25

São Paulo, 24/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - Presídio transformado em parque, antiga estação de trem abrigando centro cultural e prédios de novíssima geração totalmente envidraçados. Passado e futuro se unem na arquitetura das metrópoles do século XXI, como pode ser conferido na V Bienal Internacional de Arquitetura e Design de São Paulo (BIA), no prédio da Bienal, no parque do Ibirapuera. O tema da mostra, Metrópoles, convida o visitante a uma reflexão acerca da vida nas grandes cidades e revela os desafios para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, desde a recuperação de prédios antigos até a fusão dos ambientes interno e externo por meio da transparência do vidro. A idéia é mostrar que o arquiteto pode oferecer soluções diversas no desejo de humanizar as cidades.

Essa tentativa de tornar a metrópole mais agradável através de incursões arquitetônicas está bem presente nos projetos da "Mostra Institucional", como a do pavilhão do Governo do Estado de São Paulo. Foram montados sete projetos ao todo, alguns deles apresentando casos de reconversão, ou seja, a reutilização de um espaço com uma função diferente daquela que tinha no passado. É o que acontece com o Parque da Juventude, que está sendo erguido onde ficava a antiga Casa de Detenção, em São Paulo. Um centro esportivo já foi inaugurado no local. O projeto ainda conta com uma área institucional, onde quatro pavilhões da Casa de Detenção abrigarão o Centro de Tecnologia da Informação e Inclusão Digital, o Centro de Excelência em Terceiro Setor, o Centro de Cultura e o Centro Paula de Souza (Fatec).

Outras intervenções urbanas que poderão melhorar o dia-a-dia de muitos paulistanos, quando finalizadas, são a Linha 4 do metrô - que ligará parte da região central da cidade à zona oeste, passando pelos bairros de Pinheiros e Butantã – e o futuro Centro Cultural Estação Luz da Nossa Língua, com sede projetada na estação de trem da Luz, um dos mais conhecidos cartões postais de São Paulo.

Uma outra atração da mostra de arquitetura que possibilita grande interatividade com os visitantes é o Mosaico do Município de São Paulo, uma montagem aerofotogramétrica que mostra a totalidade do município. O mapa foi feito com 324 aerofotos. O resultado é um grande mosaico em que as pessoas podem caminhar em cima e tentar encontrar sua casa.

Ainda no primeiro andar, duas igrejas restauradas recentemente merecem destaque. A Catedral da Sé é apresentada por meio de fragmentos, como modelos de vitral e florão (ornato do topo da catedral) que dão uma idéia do acurado processo de restauração. Além disso, uma série de fotos em forma de painel e depoimentos em monitores de vídeo ajudam a contar a história da catedral, desde sua concepção pelo arquiteto Maximiliano Hehl em 1912 até a inauguração da obra restaurada no ano passado.

Recebe tratamento muito especial, através de uma bela instalação, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, originalmente localizada no centro do Rio de Janeiro. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) patrocinou seu restauro depois de ela ter ficado fechada por 12 anos em processo de ruína. Construída em 1657, a igreja foge do padrão arquitetônico brasileiro da época e, mesmo em relação a Portugal, antecipa manifestações artísticas. Há réplicas das cadeiras da igreja original e do altar, cuja maior peculiaridade é um Cristo Seráfico (com seis asas), representado de acordo com o sonho de São Francisco de Assis de libertá-lo do sofrimento da cruz. Os adornos da instalação foram feitos com macarrão e folha de ouro.

Exposição Geral de Arquitetos

O segundo pavimento da Bienal conta com a "Exposição Geral de Arquitetos", o "Núcleo de Metrópoles" e a mostra dos "Arquitetos Convidados". É bom chegar com disposição a esse andar porque há muita informação visual devido à grande quantidade de plantas e maquetes. Convivem pacificamente projetos de casas particulares e soluções de infra-estrutura para grandes cidades, tal como a mostra da "Comunicação Visual Urbana para Curitiba", que apresenta bancos de pontos de ônibus, lixeiras e totens informativos implantados na cidade. Já a prefeitura do Rio de Janeiro exibe o projeto de substituição dos 320 quiosques das praias, em fase inicial de implantação.

Tendências da arquitetura contemporânea podem ser delineadas no "Núcleo de Metrópoles". Em Nova Iorque, a moda agora é revestir a estrutura externa dos edifícios com vidro, deixando as instalações à vista. É o caso do projeto do Museu para Arte Africana, do prédio do New York Times, cujos vidros claros mudam de cor de acordo com a atmosfera, e também da Biblioteca Pública do Brooklyn. Uma outra seção é dedicada à apresentação dos sete projetos finalistas do concurso do World Trade Center, incluindo o projeto vencedor do arquiteto alemão Daniel Libeskind. Tóquio traz uma maquete da região central da cidade composta de isopor, onde foram coladas imagens digitalizadas, provocando uma sensação de realidade.

Mostras Especiais

Os trabalhos de arquitetos mundialmente consagrados estão no terceiro pavimento. Optou-se, nesse andar, por proporcionar um visual mais requintado e espaçoso. É o que pode ser conferido na seleção dos projetos do arquiteto Christian de Portzamparc e de sua mulher, a designer de interiores Elizabeth de Portzamparc. A mostra do arquiteto inglês Peter Cook e a da iraquiana Zaha Hadid são os outros destaques internacionais. A Bienal tem curadoria de Ricardo Ohtake e Pedro Cury e custos da ordem de R$ 4 milhões.

V Bienal Internacional de Arquitetura e Design de São Paulo
De 15 de setembro a 2 de novembro de 2003
Parque do Ibirapuera, portão 3
De segunda a quinta, das 9h30 às 23h
Sextas, sábados, domingos e feriados, das 9h30 à meia-noite
Inteira: R$10,00
Meia: R$ 5,00 (estudantes)
bienalsp@uol.com.br
www.bienalsaopaulo.org.br

Elisa Andrade