Brasília ingressa no circuito dos leilões de arte

21/08/2003 - 22h00

Brasília, 21/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Brasília desponta como mercado promissor para obras de arte, atraindo casas de leilões que antes atuavam apenas no eixo Rio-São Paulo. Quadros de Cândido Portinari, Teruz e Aldemir Martins e até mesmo uma escultura do célebre romeno D.H. Chiparus, com lance mínimo de R$ 80 mil, já podem ser arrematadas em pregões regados a vinho e champanhe.

No caso do Chiparus, oferecido na última semana na Academia de Tênis, o preço de catálogo é de R$ 120 mil. O público comprador, formado de altos funcionários públicos, empresários locais, colecionadores, comerciantes de arte, decoradores e alguns curiosos, estava interessado em abiscoitar, a um preço convidativo, desde obras de arte a singelos potiches de porcelana chinesa. A faixa de preço entre uns e outros variava de R$ 300 mil e R$ 100,00 - preço de um par de jarros de porcelana oriental

Há nove anos, quando a casa leiloeira dessa semana deu início às suas atividades em Brasília, não seria comum peças nem tão caras e nem tão baratas, disse o organizador do evento, Rogério Trindade. A oferta de peças significativas para colecionadores ou para decoradores que procuram objetos bonitos e em conta para seus clientes melhorou muito. No entanto, afirmou, "o público ainda continua achando que leilão de arte é somente para milionário. Não é". De fato, a grande maioria das peças colocadas no pregão teve o preço em torno de R$ 1 mil. Os potiches chineses, os campeões de arremates da noite, tiveram lances máximos de R$ 500,00.

"A grande vantagem de adquirir peças em leilão é a garantia de autenticidade", disse Rogério. Uma das leis do mercado de artes indica que para investir nele é imprescindível certificado de procedência. "Para todas as nossas peças mais valiosas fornecemos a cadeia sucessória, isto é, a cadeia sucessória da obra", afirmou. A peça Fan Dancer do escultor romeno D.H. Chiparus, que foi oferecida no pregão dessa semana, é do acervo de Marco Antônio Bruço, o maior colecionador de Art Deco do país. A preço de mercado vale hoje R$ 150 mil. No pregão, a R$ 85 mil não houve quem tivesse cacife para tanto. Mas Rogério não ficou desanimado. "É assim mesmo, imprevisível. Às vezes, peças valiosas são vendidas facilmente, em outras, não. Essa mesma estava com preço ótimo e é belíssima", elogiou.

De fato, a falta de oferta para o Chiparus não deve ter sido por ausência de beleza, mas de caixa, em tempos de vacas magras. A peça, assinada e catalogada é exemplar da maestria do escultor que na vida boêmia dos cabarés parisienses dos anos vinte – a Belle Époque – buscou inspiração para as suas bailarinas forjadas no bronze e no marfim. Chiparus foi o maior e é até hoje o incomparável artista das criselefantinas – como é denominada tal composição. Suas peças incorporam todo o espírito que anima a produção de esculturas Art Deco: um misto de clássico e ousadia que com materiais nobres dão graça e beleza aos instantes mágicos da dança– uma pose especial, uma reverência ao público ou ainda, um passo perfeito final. Tudo isso é Chiparus, que em um leilão em Brasília, apesar da admiração e do enlevo, não conseguiu romper com a crua realidade do dinheiro curto. Mas Rogério não desanima. "Enquanto dias melhores não chegarem, profusão de potiches chineses animarão nossos leilões", disse consolado.