Lula faz desabafo em defesa da reforma tributária na recriação da Sudam

21/08/2003 - 18h33

Benevides (PA) - A cerimônia de recriação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) acabou transformada num ato de defesa da reforma tributária pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de ouvir o representante dos governadores da região Norte fazer críticas à proposta enviada ao Congresso, Lula reagiu.

Ao lado dos nove governadores da região, ele lembrou que o texto entregue no dia 30 de abril no Congresso Nacional foi fruto de acordo firmado com os 27 governadores do país. "A proposta tributária não é só do presidente. Está assinada por mim e pelos 27 governadores. Isso não significa que não tenha nada a ser corrigido. Tem. O processo é dinâmico, temos diferenças enorme de região para região", afirmou Lula.

O presidente ressaltou que, após três meses da entrega das propostas ao Congresso, a reforma da Previdência foi aprovada. Na avalição de Lula, outros presidencias não conseguiram essa façanha, talvez por falta de jogo político e não de competência. "Pessoas que chegam a ser presidente pensam que não precisam mais de ninguém e podem fazer o que querem no país. Aprendi que uma boa conversa é o caminho para se conseguir o que quer", ressaltou, numa resposta sutil às críticas recentes do ex-presidenete Fernando Henrique Cardoso.

Sobre as críticas dos governadores que desejam uma fatia maior do bolo tributário na reforma, o presidente disse que isso virá de forma "muito mais justa" quando a econômia voltar a crescer. Lula também não poupou críticas aos seus antecessores. Disse que pegou o país em péssimas condições no início do ano e, "com a ajuda de Deus", conseguiu evitar que a inflação voltasse a índices astronômicos.

O presidente disse que está disposto a negociar com os govenadores, mas ressaltou que o país não podia continuar "com uma guerra fiscal alucinada e maluca", como ocorria no passado.

Especificamente sobre Fernando Henrique, Lula disse que foi incorreta a decisão de extinguir a Sudam. Na avaliação do presidente, os corruptos deveriam ter sido presos e investigados, mas não o orgão extinto. "Seria o mesmo que o Papa fechasse as igrejas se pegasse um padre roubando", comparou.

Segundo Lula, muitos ex-presidentes passaram a conceber o Brasil "de eleição em eleição" e não com base em propostas concretas para o país. "Já não se basta governar esse país pensando na próxima eleição. Temos que pensar uma nova geração investindo na educação e na saúde. Esse é o compromisso que eu não abro mão", ressaltou Lula.

Neste sentido, o presidente disse que decidiu enviar a reforma da Previdência ao Congresso porque "todos os estados estavam falidos e não poderia pagar salarios nos próximos 5 anos". E completou: "Não pensei na minha eleição".

Sobre a decisão do Banco Central de reduzir em 2,5 pontos percentuais a taxa de juro básica da econômia, o presidente fez uma discreta comemoração. "Antes era mais lento que algumas pessoas pensavam. Ontem foi mais rápido que outras queriam", ressaltou. Na avaliação do presidente o Brasil não pode mais "entrar numa aventura".

Segundo ele, um projeto sério para o país deve levar em conta as desigualdades regionais e o planejamento estratégico. A Sudam, segundo o presidente, é o início deste caminho. "O que estamos fazendo hoje a retomada do desenvolvimento regional. Trata-se de uma mudança profunda no método e na ação do governo", resumiu Lula.