Brasília, 21/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - De exportadores a importadores de produtos agrícolas. O caminho inverso percorrido por países em desenvolvimento custou um alto preço pago por pequenos camponeses de países como o Brasil, o Paraguai e a África do Sul. Em 20 anos, por exemplo, 400 mil brasileiros perderam o emprego no campo devido à substituição de exportações do algodão para a compra do produtos estrangeiros. O resgate da agricultura familiar sustentável é o principal tema que será discutido no Seminário Agricultura Familiar e Negociações Internacionais que ocorre entre hoje e amanhã, no Palácio do Itamaraty. O evento reúne representantes sociais de 20 países da América Latina, Caribe, África e Ásia, além de ministros da agricultura desses países.
A rápida mecanização do campo foi um dos principais problemas apontados pelo Ministro da Agricultura do Paraguai, Antonio Ibañez Aquino, para o desequilíbrio da produção da agricultura familiar. "A mecanização não sustentável expulsa a comunidade rural e aumenta o índice de pobreza do país", afirmou Ibañez. No Paraguai, 1,9 milhões do total da população (5,9 milhões) vive em estado de pobreza. Os miseráveis chegam a 900 mil. Desses, 80% vivem no campo. "A base da agricultura mecanizada em nosso país se deu de forma rápida e selvagem, sem dar tempo para que o governo adaptasse as pessoas para essa nova realidade", afirmou.
O ministro Paraguaio também falou sobre o compromisso do país em desenvolver programas para a proteção dos agricultores, mas lembrou que a saída para o Paraguai depende de um acordo internacional. "Esse governo tem a missão de lutar contra a pobreza e gerar riqueza. Para isso, no entanto, temos que encontrar um mercado disposto a comprar os produtos", disse. Ibañez referiu-se às dificuldades que países em desenvolvimento enfrentam para exportar seus produtos devido aos subsídios abusivos praticados por alguns países da União Européia e Estados Unidos.
Para o ministro do Desenvolvimento Agrário no Brasil, Miguel Rosseto, a solução para manter a produção das 4,1 milhões de famílias que hoje vivem do campo no Brasil passa pela estratégia de articulação do modelo de agricultura patronal com a familiar. "A agricultura empresarial tem a importante função de gerar empregos e divisas para o nosso país, enquanto isso os agricultores no campo são os responsáveis pelo abastecimento do mercado interno", definiu o ministro, durante o seminário.
Rosseto defendeu, no entanto, que as opções tecnológicas não signifiquem a exclusão do homem do campo. Para isso, o ministro disse que o governo brasileiro está tomando as medidas para assegurar aos camponeses condições de competição, como subsídios agrícolas, parcerias internacionais e aplicação de renda no campo. No primeiro semestre, o governo disponibilizou R$ 5,4 bilhões para oferecer crédito às famílias de agricultores. "A agricultura familiar tem que ser moderna, o que significa usar as melhores tecnologias que dialoguem com a visão de desenvolvimento sustentável com ênfase na agroecologia", afirmou o ministro.