Para Pinguelli, combate a aquecimento não deve frear consumo na população de baixa renda

27/10/2007 - 17h04

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O secretárioexecutivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas,Luiz Pinguelli Rosa, defende que o Brasil adote metas internas deredução da emissão de gases do efeito estufasem, contudo, assumir compromisso internacional. Ele lembra quegrande parte da população tem hoje pouco acesso a bensde consumo.Pinguelli se manifestoucontra a possibilidade de o país aceitar metas de reduçãono âmbito na Convenção Internacional de MudançasClimáticas, que reúne 180 países, em um sistemapós-Protocolo de Quito que está em debate para vigorara partir de 2012. Ele participou ontem (26) de evento sobre o quartorelatório do Painel Intergovernamental de Mudanças doClima (IPCC, na sigla em inglês)."Isso [adoçãode metas] é muito difícil, porque a maioria danossa população tem um padrão de consumo muitobaixo. Doze milhões de brasileiros no início do governoLula não tinham energia elétrica. Pessoas da classemédia emitem três vezes mais [esses gases] quealguém que mora na Rocinha [favela do Rio],e se pegarmos um camponês no interior do Piauí adiferença é mesma. Então esse país émuito injusto. Nós temos que aumentar o consumo energéticopara incluir essas pessoas, mas isso não isenta o paísde estabelecer metas internas."Os gases consideradoscausadores do aquecimento global, como o dióxido de carbono(CO2) e o metano, são liberados na atmosfera a partir dediversas atividades, como a fabricação de produtos, aagricultura e a pecuária.Para Pinguelli, asmetas internas brasileiras devem ser perseguidas respeitando asdesigualdades, para que o processo seja socialmente justo. Ementrevista à Agência Brasil, ele propôs aadoção de medidas para reduzir o desperdícioobservado na classe média, como, por exemplo, uma altatributação sobre veículos de luxo com grandeemissão de gases. Por outro lado, defendeu a manutenção docrescimento da economia do país baseada no aumento do acesso abens de consumo pelas classes de renda mais baixa da população."Nós nãopodemos abrir mão do desenvolvimento, por que grande parte dapopulação brasileira está numa situaçãoprecária de vida, consumindo inclusive pouca energia”,ponderou. “Ao mesmo tempo, temos que estimular soluçõesque permitam aqueles que consomem mais, como a classe média, adiminuírem seu consumo, e também melhorar os padrõesde uso dessa energia. O Brasil tem que fazer as duas coisas ao mesmotempo, mas não pode negar o direito de pessoas mais pobresingressarem na posse de automóveis, de equipamentos. Nãopodemos impedir que o brasileiro pobre melhore de vida. Esse éo dilema: o ambientalismo tem que ser social, não pode serpuro."No evento nacapital fluminense, Luiz Pinguelli Rosa participou de um debate sobre políticas públicase oportunidades de mitigação (redução) daemissão de gases de efeito estufa. A mudança do padrãode produção e de consumo da sociedade foi uma dasalternativas apontadas para o combate ao aquecimento do planeta.