Inspirada por Graciliano Ramos, professora filma infância no sertão

27/10/2007 - 17h08

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A professora de ensino fundamental e artesã Maria do Carmo Silva Ferreira foi uma das escolhidas para participar do projeto Revelando os Brasis – Concurso de Histórias para a Realização de Vídeos Digitais de Curta-Metragem, um programa da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura, que tem o objetivo de promover processos de formação e inclusão audiovisuais com estímulo à produção de vídeos digitais.A moradora da cidade de Batalha (AL), a 152 quilômetros de Maceió, nunca tinha entrado em uma  sala de cinema, até começar a fazer o treinamento oferecido pelo programa, no Rio de Janeiro, em 2006 . Apesar de não ter tido, até então, nenhum contato com a cinematografia, Maria do Carmo se inscreveu no projeto e foi selecionada em 2005, para rodar seu filme no ano passado. “Foi reinação mesmo, nunca fiz nada na área, mas a gente tem que fazer, tem que conhecer as coisas”. Leitora e admiradora de Graciliano Ramos, Maria do Carmo afirma que quando viu o anúncio no jornal da capital e na televisão sobre o projeto do governo pensou em fazer um filme que mostrasse o quanto a realidade da região ainda é próxima daquela narrada pelo autor de Vidas Secas.“Desde o tempo em que ele construiu o livro dele, as coisas ainda continuam parecidas. Não mudou muito. Então o que me chamou a atenção foi essa questão das coisas mudarem e esse aspecto da minha região não mudar, que é a secura, que é a infância que continua pouco assistida”. Ela acrescenta: “o interessante é que aquele livro dele, eu acho que ele pode ter mil anos, mas é como se fosse agora. E isso é quase que um cotidiano na nossa região. Pensei em fazer o filme para mostrar que ainda existe isso”.O filme, patrocinado pelo programa, é um curta-metragem de 15 minutos de duração, que contou com a participação de cerca de 15 pessoas, todos eles moradores de Batalha, que nunca também tinham participado de algo do gênero. Com o título de Infância no Sertão, o filme narra o cotidiano de uma família da região. “Uma casa no interior com uma família e, evidentemente, um cachorro. E aí fala de felicidade, fala de esperança, e de um sofrimento que, por mais que exista, ele está existindo ali só que de uma forma camuflada”. O projeto é válido para cidades com até 20 mil habitantes e a intenção é que contribua para a formação de receptores críticos e para a produção de obras que registrem a memória e a diversidade cultural do país. Maria do Carmo procurou mostrar a do interior alagoano.“Existe tudo em uma pessoa que mora numa capital ou no interior. Existe todos os tipos de sentimento. Para nós não é diferente. Porém, a secura, às vezes, faz com que a pessoa perca essas qualidades. Eu tentei mostrar isso”.