Livro de sociólogo conta história de Pai Agenor e já virou filme

18/07/2004 - 16h49

Norma Néri
Repórter da Agência Brasil

Rio - O sociólogo e professor de mestrado e graduação de Teoria da Cultura e dos Meios Comunicação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), Muniz Sodré, escreveu um livro sobre Pai Agenor, o professor e líder de candomblé Agenor Miranda Rocha, intitulado "Um Vento Sagrado", que virou filme de 1h30, com o mesmo nome.

Como "filho espiritual", conforme explicou, .Muniz Sodré participou da cerimônia de despedida do Pai Agenor, que morreu ontem, aos 96 anos, e foi cremado hoje no Cemitério do Caju, Zona Norte da cidade. Muniz conta que teve a sua confirmação em 1977, por Mãe Estela, no terreiro Axé Opô Afonjá, em Salvador, como Obá e sucessor de Camafeu de Oxóssi, e desde então foi acompanhado por Pai Agenor.

Toda terça-feira, com a professora Raquel Paiva, passava a tarde na casa do Engenho Novo, conversando com o líder religioso, e participava de obrigações em outros dias.Segundo o sociólogo, Pai Agenor era o grande adivinho e babalaô da tradição negra, apesar de não ser negro, e fez o jogo que escolheu Mãe Estela de Oxóssi na sucessão das mães de santo, como herdeira do Axé. "Para nós todos é uma perda enorme, um saber e uma vidência que não se transfere", garantiu.

Outro seguidor do falecido, Wanderley de Xangô, aprendeu a jogar búzios com Pai Agenor e teve seu orixá determinado por ele, que era amigo de sua bisavó, Amanda de Homolu, em Salvador. Além da ligação familiar, Wanderley disse que o líder determinou muitos procedimentos na religião e lamentou a perda da pessoa e do " dom que ele tinha, que era determinado por Deus".

Muito emocionada, a atriz Camila Amado, contou que seu tio, Jorge Amado, dizia que quando Agenor pisava na Bahia todos os terreiros tocavam atabaque. Ela disse ainda que sua mãe, a educadora Henriette Amado, conversava muito com Agenor Miranda, quando ele era professor no Instituto de Educação. "Ele era um sábio, um gênio, cheio de bondade e, sobretudo, sem demagogia , sem cobrar um tostão de ninguém e sempre alegre por estar vivo", contou.

Camila disse que Mãe Menininha só jogava Búzios com Pai Agenor e destacou que, numa escolha de sucessão de mãe de santo, estavam todas as pretendentes muito bem paramentadas e sentadas à mesa, quando ele perguntou depois de jogar os Búzios: "Onde está Creuza? E aí disseram que ela era servente e estava varrendo uma escola. E ele disse; - pois é, ela é que vai ser a Mãe de Santo do terreiro".

Luís de Homolu relaciona a morte de Pai Agenor ao choque sofrido por ele com a perda recente de Mãe Cantu, em Salvador, a quem ele era muito ligado. "Ontem fez sete dias do axexê dela e, ele morreu". Luis disse é uma grande perda de uma pessoa especial, que dava conselhos e confortava a todos, atendendo até 30 pessoas por dia, apesar da idade