Amigos e seguidores se despedem de Pai Agenor, professor e líder do candomblé

18/07/2004 - 14h24

Rio, 18/7/2004 (Agência Brasil - ABr) - Ele sempre recebia de Jorge Amado os romances com dedicatória carinhosa e a sua despedida reuniu do acadêmico Antonio Olinto até o seu mais humilde seguidor. O corpo do professor e líder do candomblé Agenor Miranda Rocha, o Pai Agenor, 96, foi velado no Edifício do Ministério da Educação, no Centro da cidade, e cremado hoje, às 11h, no Cemitério do Caju, na Zona Norte do Rio.

Pai Agenor morreu ontem, na Casa de Saúde Santa Marta, em Niterói. Cerca de cem pessoas, entre amigos, ex-alunos, babalorixás, artistas, professores, advogados, sociólogos, escritores e antropólogos participaram da cerimônia de cremação, no Caju.

O corpo chegou ao local num carro fúnebre, mas não foi levado para a entrada que fica atrás do Crematório, como normalmente acontece. O carro retornou até o portão do cemitério, na Rua Carlos Seidl, e foi levado nos ombros, como manda o ritual, pelos seguidores do candomblé, vestidos de branco e entoando cantos para os mortos em nagô.

A cerimônia de despedida também ultrapassou os 30 minutos convencionais e teve 15 coroas de flores com homenagens, entre elas "Saudade Eterna" do Ministro da Cultura, Gilberto Gil, as de Flora Gil e Fafá e da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho e seu marido, o secretário de segurança Anthony Garotinho. A voz de Pai Agenor foi ouvida numa gravação da "Ave –Maria" de Gounod, seguida por música de Gilberto Gil, de cantos com nomes de orixás pelos presentes e finalizada com o toque de despedida, feito com as mãos, à saída do caixão.

Pai Agenor era um intelectual eclético, que por mais de 47 anos foi professor de português e matemática do Colégio Pedro II, além de cantor lírico e de fados, poeta, escritor, pianista e estimulador da arte. Ele nasceu em Angola, filho de país portugueses (ele diplomata, ela cantora lírica), era branco, de olhos azuis, e conhecia profundamente a religião africana, a história dos orixás e as ligações com outras religiões.

Com a família já morando em Salvador, Mãe Aninha, fundadora do Axé Opô Afonjá, designou o menino Agenor para escolher pelo jogo do Ifá (búzios) as herdeiras do axé, entre elas, Mãe Senhora, Mãe Menininha e Mãe Creuza .Ele Tinha o título de "Homem que Vê", não só pelo domínio do ifá, mas também pela grande vidência e sensibilidade, sendo considerado o "grande babalaô da tradição nagô" e o "pai dos babalorixás".

Agenor Miranda Rocha, filho de Oxalá, se dizia católico e contava que, quando nasceu, sua mãe recebeu a visita de três homens, que disseram que ele tinha que ser raspado (a cabeça, para ser iniciado no candomblé), senão ficaria doente. A enfermidade aconteceu aos cinco anos e sua mãe decidiu cumprir a orientação, quando ainda moravam em Angola.

Pai Agenor nunca cobrou pelos atendimentos que fazia e ainda continuava jogando búzios e dando conselhos para quem o procurasse. Ele não tinhafilhos e morava no bairro do Engenho Novo, com Guimar, companheira de longa data.