Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Com jornadas de trabalho quatro a seis horas superiores à dos homens, a sobrecarga de trabalho das mulheres é um dos principais obstáculos à emancipação da mulher no campo. A constatação foi feita hoje (19) durante o Seminário Internacional Políticas Públicas para Mulheres Rurais na América Latina e Caribe. Representantes de 17 países vão avaliar as políticas existentes, visando à proposição de uma agenda futura comum para a região.
“A jornada de trabalho das mulheres do campo costuma começar por volta das 5 horas da manhã e termina em torno da meia-noite. Além do trabalho com os maridos, elas ainda são responsáveis por cuidar das crianças e das atividades domésticas,” disse Carmen Foro, representante da Marcha das Margaridas, movimento que reúne trabalhadoras rurais no Brasil. Ela também defendeu a necessidade de investimento em creches no campo.
Na avaliação da consultora para igualdade de gênero da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Soledad Parada, a baixa remuneração, a dificuldade do acesso à terra e a ausência de políticas de proteção social também estão entre os fatores que dificultam a autonomia das mulheres no campo. “Muitas vezes a família trabalha e o marido recebe o dinheiro, isso acontece desde as lavouras de tabaco da Argentina até as plantações de café no Panamá,” disse. Em função dessa realidade, o órgão estima que 54% das trabalhadoras rurais na região se encontram abaixo da linha de pobreza.
A secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Andrea Butto, destacou a necessidade de se alcançar uma agenda em comum em torno desses temas como forma de enfrentar as desigualdades na América Latina. “Alguns desafios regionais importantes são o acesso à documentação civil básica, ao crédito rural, à reforma agrária e acesso à terra, além da assistência técnica de extensão rural,” disse.
Andrea disse que alguns temas são alvos de políticas no Brasil. “Hoje nós promovemos o acesso igualitário à terra; as mulheres não aparecem mais como cônjuges. Agora elas são titulares e quem primeiro consta no cadastro da reforma agrária,” disse. Ela informou que o governo pretende construir, até 2014, 3 mil creches para atender tanto aos moradores do campo quanto da cidade.
Durante a abertura do evento o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, defendeu o fortalecimento das políticas de apoio às trabalhadoras rurais e o enfrentamento da violência no campo. Para ele, devem ser aprofundados os debates sobre o acesso de mulheres à terra, ao crédito, à assistência técnica e ao mercado, inclusive de compras governamentais.
Edição: Fábio Massalli
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil