Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Um centro cultural com teatro, cinemas, espaço multiuso, museu, livraria e café, além de uma exposição permanente em homenagem aos estudantes vítimas do regime militar. Ser novamente um espaço de efervescência artística e intelectual do Rio de Janeiro e do Brasil. Essa é a proposta da nova sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), cuja obra foi lançada hoje (11), Dia do Estudante e aniversário de 75 anos de fundação da entidade.
O terreno onde o prédio será construído é o mesmo onde funcionou a histórica organização estudantil nos anos 1940, 1950 e 1960. A sede foi incendiada em 1964 pela ditadura militar e demolida em 1981. O projeto do novo prédio vem de um esboço feito em 1982 pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Para o presidente da UNE, Daniel Iliescu, a reconstrução da sede é um momento muito simbólico na luta pela democracia no país.
Com aprovação unânime no Congresso Nacional, a entidade recebeu, no fim de 2010, R$ 30 milhões de indenização, dos R$ 44,6 milhões determinados. Esse é o recurso que será usado nas obras, que devem durar dois anos. A UNE é a primeira pessoa jurídica a ser indenizada pelos crimes da ditadura.
A historiadora Angélica Müller, que lançou, também hoje, o livro Praia do Flamengo, 132 - Histórias e Memórias, em parceria com Tatiana Rezende, disse que a reconstrução é um momento muito importante não só para a UNE, mas para a história política e cultural do país.
“A história do movimento estudantil é entrelaçada com a história política do Brasil, com a história cultural do Brasil. No início dos anos 1960, neste lugar aqui, na Praia do Flamengo 132, a UNE viveu momentos de glória”, disse a historiadora.
Homenageado na cerimônia de lançamento das obras, o único fundador da UNE ainda vivo, Irum Sant’Ana, disse que a entidade foi um sonho que ultrapassou o ideal daqueles jovens no ano de 1937.
“Quando ela começou a luta para existir, e depois que passou a existir, meu pensamento passou a ser o seguinte: meu sonho em relação a UNE foi muito pequeno em relação ao que ela é, e em relação ao que ela vai dar aos estudantes. Principalmente ela representou esse papel de unir os estudantes, de dirigir os estudantes com um programa nacional libertador”.
Irum, no entanto, criticou a atual movimento estudantil. “Pelo que eu vejo, pelas notícias, vocês vão me desculpar, vocês são estudantes, são os diretores do poder jovem, mas está muito fraco, o que vocês estão fazendo está muito, muito fraco. Há anos que este espaço aqui deveria ter sido objeto de reconstrução, e vocês não exigiram isso”, disse.
O número 132 da Praia do Flamengo foi ocupado pelos estudantes em 1942, em meio à 2ª Guerra Mundial. O local pertencia a grupos que apoiavam a Alemanha nazista. Depois do incêndio, em 1964, e da demolição, em 1981, o terreno foi ocupado de forma irregular por um estacionamento. Em 2007, os estudantes reocuparam o espaço e conseguiram a posse legal. E em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do lançamento da pedra fundamental da nova sede da UNE.
Edição: Fernando Fraga