Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A valorização do real deverá ser atenuada, mas sem reversão da tendência de alta, com as medidas anunciadas hoje (27) pelo governo, segundo os especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Entre as novas regras publicadas no Diário Oficial da União por meio de medida provisória está o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para algumas operações no mercado futuro.
O presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Heron do Carmo, disse que os anúncios de hoje complementam as medidas tomadas desde o início do ano pelo governo para conter o câmbio. “Foi uma medida que teve algum efeito no mercado. Pode ser entendida como uma medida de caráter prudencial que complementa outras que já foram adotadas”.
As medidas, entretanto, apenas reduzirão o ritmo de valorização da moeda nacional, na avaliação de Carmo. Alta induzida, segundo ele, pela crise na Europa e as incertezas em relação à economia norte-americana. “Essa é uma medida para atenuar essa tendência de valorização do real. Nada indica que isso vá alterar essa situação de real forte que nós já estamos vivendo”.
O gerente de Câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, considerou as medidas “paliativas”. “A gente viu o mercado operando hoje mais em alta [em relação ao dólar], mas por segurança”, ressaltou. Segundo ele, o aumento da cotação da moeda norte-americana aconteceu principalmente devido às incertezas sobre a amplitude das novas regras.
O presidente da Associação Brasileira de Corretoras de Câmbio, Liberal Leandro Gomes, também acredita que grande parte dos efeitos das medidas estão ligados a uma reação psicológica dos investidores. “O efeito psicológico é muito grande”.
Apesar de considerar o anúncio de hoje um acerto, Gomes avaliou que o câmbio só cederá de maneira definitiva com a adoção de outras ações.
Na opinião de Carmo, só serão tomadas novas medidas se o real continuar a se valorizar de maneira “persistente”. Ele avalia, no entanto, que no médio prazo, o dólar deve se estabilizar em um patamar de cerca de R$ 1,60. “O mais provável é que tenhamos uma melhora do cenário internacional, com solução desses problemas que vem afetando a economia americana e europeia. Isso tudo pode levar a alguma tendência de reversão da valorização do real”.
Galhardo, porém, vê com preocupação as ações para conter a queda do dólar. “O mercado se sente cansado. Estamos desde janeiro, com o câmbio sendo massacrado”, reclamou. Ele teme que o governo exagere nas medidas e acabe espantando os investidores estrangeiros.
Edição: Rivadavia Severo