Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As medidas cambiais anunciadas hoje (27) pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, poderão reduzir a entrada de capital especulativo no Brasil, mas não surtirão grande efeito sobre o dólar, que seguirá depreciado, disse à Agência Brasil a economista Margarida Gutierrez, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ).
Uma das medidas dá ao Conselho Monetário Nacional (CMN) poderes adicionais aos estabelecidos pela Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa) para restringir operações no mercado de capitais e derivativos. Outra medida prevê elevação de até 25% no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado na chamada posição vendida de câmbio (operações com compromisso futuro de entrega de dólares). Isso significa que, em um primeiro momento, posições vendidas acima de US$ 10 milhões pagarão 1% de IOF sobre o que exceder esse valor.
Segundo Margarida, as operações no mercado de derivativos não implicam colocar dinheiro e imobilizar recursos. “A princípio, um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% não é nada muito grande. O ganho aí é muito maior do que isso”.
Como exemplo, a economista disse que um investidor internacional que não tem dinheiro pode pegar recursos à taxa Libor (taxa preferencial de juros que remunera grandes empréstimos entre os bancos internacionais que operam no mercado londrino e é também utilizada como base da remuneração de empréstimos em dólares a empresas e instituições governamentais), hoje da ordem de 0,8% ao ano,pelo prazo de um ano, e aplicar em fundo cambial no Brasil que está dando cerca de 3,5% ao ano.
“É uma transação em que ele [investidor estrangeiro] não põe um tostão e tem um ganho líquido de 3,5% menos 0,8%. Um ganho de 2,7% em cima de cada real que ele coloca no Brasil”. De acordo com Margarida, 1% de IOF em cima disso não vai eliminar o ganho. “Pode diminuir um pouquinho o fluxo, mas a gente tem aí um movimento maior, que é a desvalorização do dólar.”
Para ela, a entrada de capital especulativo pode ser reduzida, embora a tendência de queda da moeda norte-americana não venha a ser revertida. Segundo ela, outros fatores contribuem para isso, entre os quais a elevação dos preços das commodities (produtos minerais e agrícolas comercializados no mercado internacional) e os juros elevados no Brasil, além das boas perspectivas de crescimento econômico do país. “Há um conjunto de fatores que leva na direção oposta”.
Embora ache que o dólar vá continuar desvalorizado, a economista disse que o que diminuirá é a intensidade da apreciação do real, “porque o imposto a ser cobrado está tornando mais cara a transação, mas não a ponto de inverter o fluxo.”
Edição: João Carlos Rodrigues