Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África
Kigali (Ruanda) – A população de Ruanda vai às urnas amanhã (9), pela segunda vez, para escolher seu presidente, desde o massacre étnico ocorrido em 1994. Paul Kagame, que chegou ao poder depois do genocídio que matou 800 mil integrantes das etnias Tutsi e Hutu, concorre ao seu terceiro mandato. Os locais de votação estão abertos entre as 6h e as 15h locais – entre a meia-noite de hoje (8) e as 10h de amanhã, horário de Brasília.
Os observadores internacionais esperam que os primeiros resultados saiam poucas horas depois do fechamento das urnas, devido à liderança que Kagame teve nas últimas pesquisas, algo entre 75% e 85% da expectativa de votos. Além disso, Ruanda tem pequenas dimensões. São 26 mil quilômetros quadrados, área pouco maior que o menor estado brasileiro em extensão, Sergipe, e uma população de apenas 10 milhões de habitantes. Os resultados serão oficializados até o dia 17.
À Agência Brasil, o chefe da missão de observadores da União Africana, Anil Gayan, disse acreditar que as eleições serão tranquilas. Ex-ministro do Negócios Estrangeiros das Ilhas Maurício, Gaian disse que “há muita calma no país, não há incidentes ou violência. O processo eleitoral foi tranquilo e esta segunda-feira deve ser um dia de tranquilidade e de vitória da democracia em Ruanda”, afirmou.
O governo enfrenta acusações de grupos de direitos humanos de tentar de calar a oposição. Jornais deixaram de circular em abril e um jornalista que criticava o governo, Jean Léonard Rugambage, foi baleado na cabeça.
O vice-presidente do Partido Democrático Verde, André Kagwa Rwisereka, foi encontrado morto no Sul do país. Os dois crimes estão sob investigação. Dois outros opositores foram presos, acusados de incitar as diferenças étnicas que causaram o genocídio de 1994. Eles não obtiveram registro para concorrer.
O atual presidente nega qualquer pressão. Falando aos repórteres que estão em Kigali, capital de Ruanda, na véspera da eleição, Kagame disse que a perspectiva de vitória é resultado do trabalho do governo e do partido RPF (Rwandan Patriotic Front – Frente Patriótica de Ruanda). O partido, segundo ele, está “bem preparado, organizado e apresentando alternativas para resolver os problemas das pessoas”.
Em seu favor, Kagame fala do crescimento econômico de 6% ao ano. Os ganhos médios da população triplicaram. O combate à corrupção recebe elogios internacionais, as mulheres têm grande espaço na vida pública. E os investimentos para tornar Ruanda um polo de serviços na África não param de chegar.
Na primeira vez que concorreu à reeleição, em 2003, Kagame recebeu mais de 90% dos votos. Seus dois adversários mais fortes fizeram parte do governo e não são vistos como alternativa de poder. Nas ruas de Kigali, a propaganda desapareceu. Cartazes e fotografias foram retiradas no fim de semana. Os poucos que sobraram são de Kagame, que também aparece nas camisetas usadas por vários eleitores neste domingo.
Segundo o site oficial do governo ruandês, Paul Kagame foi eleito em 2000 pela Assembleia Nacional de Transição. Depois do massacre de 1994, ele foi eleito presidente do RPF, que instituiu o Governo de Unidade Nacional com outros quatro partidos: o Partido Liberal, o Partido Social Democrata, o Partido Democrata Cristão e o Movimento Democrático Republicano.
Edição: Lana Cristina