Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Uma análise publicada no final do mês passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir dos dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad) e das contas nacionais e regionais, mostra que, em praticamente todas unidades da Federação, ficou menor a distância entre os pobres e os ricos, entre 1995 e 2008.
A única exceção é o Distrito Federal. Nesse período, o índice de Gini – que mede desigualdade de renda – aumentou de 0,58 para 0,62 (quanto mais próximo de 1 maior a desigualdade). A Pnad é feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, a razão do aumento da desigualdade na unidade que abriga a capital do país está no pico e na base da pirâmide social. Nos últimos anos, no Distrito Federal, houve aumento de renda dos mais ricos (em Brasília, funcionários públicos com as carreiras mais valorizadas) e aumento do número de pessoas com renda extremamente baixa (migrantes). “A desigualdade aumenta porque o crescimento populacional se dá na base da pirâmide social”, explicou.
Pochmann lembra que, na última década, houve recomposição dos salários do funcionalismo, mas pondera que a migração é mais responsável pela desigualdade. “Mesmo quando, nos anos 90 e no início desta década, os salários ficaram comprimidos, não tiveram reajuste e nem recuperação real, a desigualdade geral também crescia”, destacou.
De acordo com o sociólogo Marcel Bursztyn, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), o Distrito Federal ainda atrai migrantes sobretudo por conta do acesso a serviços públicos, como o atendimento médico-hospitalar. “São serviços de qualidade superior à [qualidade] dos que [eles, os migrantes] têm em suas regiões. Muita gente vem para Brasília em busca de tratamento de saúde de algum membro da família”, relata.
Bursztyn diz que ainda se lembra de quando fez pesquisas de campo e encontrou famílias que chegaram ao Distrito Federal de carroça ou em ambulâncias. São pessoas, segundo ele, que percorreram mais de mil quilômetros para trazer alguém doente, necessitando de tratamento que não encontrou na sua região.
Para o acadêmico, o aumento da desigualdade da renda no Distrito Federal mostra que Brasília, em vez de ser uma “ilha da fantasia”, se parece muito com o Brasil, tido como um dos países mais desiguais do mundo. “Brasília é um retrato caricatural, no qual se acentuam os traços mais visíveis. Brasília é uma miniatura do país.”
Edição: Lana Cristina