Da Agência Brasil
Brasília - A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse hoje (27), em Washington, que os Estados Unidos têm divergências “muito sérias” com o Brasil em relação à abordagem da questão nuclear iraniana mas elas não afetam o bom relacionamento entre os dois países. “A discordância", disse a secretária, "não enfraquece nosso comprometimento em encarar o Brasil como um amigo e um parceiro. Nós queremos com o Brasil uma relação que passe no teste do tempo.”
As declarações de Hillary Clinton, de acordo com a BBC, foram feitas em um momento de tensão nas relações entre os dois países. O Brasil, ao lado da Turquia, negociou com o governo iraniano um acordo sobre seu programa nuclear. O acordo foi anunciado no último dia 17, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã, e tinha como base uma proposta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) ao Irã no ano passado.
O Irã se comprometeu em enviar urânio com baixo nível de enriquecimento à Turquia e receber em troca o material enriquecido o suficiente para uso médico, mas não militar. Um dia depois do anúncio do acordo, porém, os Estados Unidos circularam uma proposta de resolução no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pedindo uma quarta rodada de sanções contra o Irã.
O governo americano afirmou valorizar os esforços do Brasil e da Turquia mas disse que o acordo era insatisfatório e não afastava os temores de que o Irã continue enriquecendo urânio. A decisão americana foi criticada pelo governo brasileiro, que é contra a imposição de novas sanções ao Irã.
“Nós discordamos”, disse Hillary Clinton hoje. “Nós dizemos: ‘não concordamos com isso. Achamos que os iranianos estão usando vocês, nós achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança’.” Segundo a BBC, a secretária afirmou ter dito ao ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, que o governo americano acha que “ganhar tempo para o Irã, permitindo que o Irã evite a união internacional a respeito de seu programa nuclear, torna o mundo mais perigoso”.
Os Estados Unidos e seus aliados temem que o Irã planeje desenvolver armas nucleares secretamente e por isso exigem a interrupção do enriquecimento de urânio no país. O Teerã nega essas alegações e afirma que seu programa nuclear é pacífico. Apesar de já ter sido alvo de três rodadas anteriores de sanções, o Irã continua se recusando a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.
O Brasil, assim como a Turquia, tem uma vaga rotativa no Conselho de Segurança, sem direito a veto. Os Estados Unidos afirmam ter os votos necessários para a aprovação da nova resolução, com o apoio dos outros quatro membros permanentes (Grã-Bretanha, França, Rússia e China). Mesmo que decidam votar contra a resolução, o Brasil e a Turquia não teriam poder para evitar as novas sanções.
Segundo analistas, porém, uma posição contrária dos dois países prejudicaria a ideia de união sobre o tema que os Estados Unidos desejam transmitir. Em seus comentários, a secretária americana afirmou ainda que os Estados Unidos e o Brasil gozam de uma relação comercial robusta. Hillary também elogiou a atuação brasileira nos esforços após o terremoto que devastou o Haiti em janeiro e na busca de um acordo global sobre medidas para combater as mudanças climáticas.
Edição: Aécio Amado