Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O maior risco dopatrimônio histórico brasileiro é perder arelevância para a sociedade, na opinião do presidente doInstituto Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida. Em entrevista à AgênciaBrasil, ele afirmou que para ser preservado, "opatrimônio deve permanecer socialmente importante,simbolicamente importante”. Na mesma linha deraciocínio, a pesquisadora da Universidade Estadual deCampinas, Maria Tereza Paes, complementa: “O patrimônio sófaz sentido se tem ressonância para a população.Se ele não tiver valor para população ele nãomerece nem ser tombado. Porque não é uma ferramentapolítica que vai dar ao bem algum valor cultural, ele tem queter valorizado pela própria população”,avaliou.No entanto,ocoordenador de projetos da Defesa Civil do Patrimônio Histórico(Defender), Telmo Padilha, destaca que é fundamental haverconscientização da importância das raízeshistóricas para que haja interesse em manter os símbolosmateriais do passado . “Enquanto nós não tivermoscomo matéria transversal a Educação Patrimonial,não vamos conseguir fazer com que o cidadão entenda ovalor do patrimônio”.Segundo Padilha, essa importância vai além das construções. “Conservar o patrimônio traz um retorno muito grande para asociedade. Traz conhecimento, auto-estima e respeito pela história,não tem preço”, disse.Outro fator decisivopara a manutenção dos sítios arquitetônicose urbanísticos, na opinião de Tereza Paes, éque as áreas sejam ocupadas e usadas pelas pessoas do lugar. “Se você não tem populaçãoefetivamente vivendo nessas áreas, elas viram cenários.Se elas viram cenários, elas não são nempreservadas. Porque não tem uma população queefetivamente lhe de valor. A não ser turista que imprime umuso efêmero aquelas paisagens”, afirmou. Ela ponderaentretanto que muitas vezes, apesar de a populaçãolocal ter interesse nas áreas com valor histórico, nãoé capaz de competir com a força da especulaçãoimobiliária. “No centro de São Paulo a gente teve ummovimento fortíssimo dos moradores de rua, com a váriasassociações. E hoje a gente sabe que eles foramvencidos. Nós temos uma outra proposta hoje para o centro deSão Paulo”, lembrou.Por isso, apesquisadora ressalta a importância de haver programas degoverno voltados para a preservação desses bensassociados à inclusão social. “Se não houver vontadepolítica, planos, programas, essa populaçãodificilmente consegue fazer valer a sua vontade”, destacou.Atualmente, o governofederal põe em prática o Programa deAceleração do Crescimento (PAC) voltado para as cidadeshistóricas. O presidente do Iphan disse que se trata de um“projeto estruturador”, que trabalha a partir de um “conceitotransversal”. De acordo com ele, 140 cidades já enviaramdiagnósticos para serem incluídas no programa.Segundo Almeida, o PAC pretende elaborar estratégias de desenvolvimento baseadas nopatrimônio histórico, como forma de dar sustentabilidadeeconômica e social aos sítios.Para abranger a grandequantidade de bens com valor arquitetônico e cultural, TelmoPadilha, afirma ser necessário, além do projetofederal, o envolvimento do poderes públicos locais e agarantia legal de recursos para a manutenção dessesimóveis e objetos. “Nós precisamos que os estados emunicípios também façam seus PACs”.