Falta de registro deixa vulneráveis 90% do patrimônio histórico do país, denuncia entidade

09/01/2010 - 10h47

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A recuperaçãode edificações com valor histórico depende daexistência de registros documentais e fotográficos dos diversos aspectos da estrutura e estética do imóvel,o chamado levantamento cadastral. Em caso de acidentes, sãoessas informações que vão guiar os trabalhos derestauração ou até a reconstrução dopatrimônio. Entretanto, segundocoordenador geral de projetos da Defesa Civil do PatrimônioHistórico (Defender), Telmo Padilha, 90% do patrimôniohistórico do país não disdpõem desse levantamento. Caso essas edificações sejam destruídas incêndios ou enchentes, estarão completamente perdidas. ADefender é uma Organização da Sociedade Civil deInteresse Público (Oscip) gaúcha que atua desde 2002 nadefesa do patrimônio histórico e artístico.A inundaçãoque deixou o município paulista de São Luiz doParaitinga submerso e danificou construçõesdo século 19 deve servir de alerta para que sejam catalogados outros sítios históricoscomo forma de proteger o patrimônio, na avaliação de Padilha. “Existem países que passaram por guerras, queforam totalmente destruídos e reconstruíram”,ressaltou.Sobre São Luiz do Paraitinga, o Instituto PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que, comoo processo de tombamento do conjunto arquitetônico da cidadeestava em estado avançado, as construções foramregistradas e catalogadas. Em pouco tempo o conjunto do municípiopoderia integrar o grupos dos cerca de 100 sítios urbanostombados pelo instituto.Isso é diferente do queacontece na capital do estado, onde, de acordo com o presidente daAssociação Preserva São Paulo, Jorge EduardoRubies, milhares de imóveis de valor histórico earquitetônico não recebem qualquer tipo de proteção.“O patrimônio histórico aqui de São Paulo estáameaçado, é mal cuidado, pouco valorizado, a situaçãoé realmente muito ruim”, afirmou em entrevista àAgência Brasil.Segundo Rubies, avalorização das áreas onde estãolocalizados imóveis de importância históricaacaba fazendo com que essas propriedades sejam adquiridas por grandesempresas que depois derrubam as edificações e usamos terrenos para outros fins.“A especulaçãoimobiliária é a grande responsável peladestruição do patrimônio histórico, porqueeles não tem o menor interesse em preservar, querem destruirtudo mesmo”, disse.Os tradicionaisconjuntos habitacionais operários da Mooca, na zona leste,estão sendo demolidas, segundo Rubies, para a construçãode megacondomínios. “São uma coisa que a genteconsidera uma excrescência no tecido urbano da cidade, porqueesses megacondomínios arrasam quarteirões inteirospara construir essas torres fortificadas totalmente separadas dacidade, não têm um diálogo com a cidade”, destacou. O setor imobiliário,acrescentou Rubies, usa o poder financeiro para influenciar aesfera política e realizar esse tipo de modificaçãona estrutura urbana. Ele relembrou a cassação de 16vereadores determinada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) porreceberem doações irregulares da AssociaçãoImobiliária Brasileira (AIB).Telmo Padilha lembra que existe o conceito equivocado de que substituir construçõesantigas por obras mais modernas é uma forma dedesenvolvimento. “A velocidade da destruição dopatrimônio é diretamente proporcional ao que se chama deprogresso”.O metrôpaulistano, aponta Jorge Rubies, arrasou dezenas de imóveis devalor histórico durante a sua construção econtinua derrubando na sua atual expansão. O que, segundo opresidente da Preserva São Paulo, não seria necessário.“Somos defensores incondicionais do metrô. Mas por exemplo,em Paris foi construído um metrô enorme e se preservoutudo de importante na cidade”.