Técnicos da Defesa Civil estavam no Morro da Carioca quando encosta desabou

05/01/2010 - 6h01

Vitor Abdala
Enviado Especial
Angra dos Reis (RJ) - Técnicosda Defesa Civil Municipal de Angra dos Reis estavam no Morro da Cariocano momento em que uma encosta deslizou, matando mais de 20 pessoas. Umaequipe de sete pessoas havia ido ao local no início da madrugada de sexta-feira(1º), devido a um deslizamento pequeno, que provocara o desabamento deuma casa, sem vítimas, bem próximo ao local onde minutos mais tardeocorreria o desastre.Os agentes retiraram moradores das casasdo entorno e se preparavam para deixar o morro, quando um forteestrondo foi ouvido. Era o deslizamento maior, que provocaria osoterramento de várias casas no alto do morro e deixaria mais de 20mortos.A agente da Defesa Civil Thais dos Reis era uma dastécnicas que estavam no Morro da Carioca no momento do deslizamento.Ela conta que quando foi ao morro atender ao desabamento de uma únicaresidência, não imaginava que fosse presenciar um desastre.“Quando começou a chuva, acreditávamos que teríamosproblemas sim, mas não dessa grande proporção. Já vinha chovendo hádois dias, com chuva forte. Então, o solo já estava encharcado eimaginávamos que íamos ter trabalho, mas não nessa grande proporção”, disse.Aoouvir o barulho do deslizamento, os técnicos da Defesa Civil voltaram ao local onde toneladas de terra haviam descido do alto domorro. O primeiro trabalho foi retirar os moradores das casas que aindanão tinham sido afetadas pelo desastre. Em seguida, dois sobreviventesforam encontrados. “Quando estávamos manobrando o carro para irembora, ouvimos o barulho e aconteceu o deslizamento principal. Daífomos para o local, começamos a tranquilizar as pessoas e tentar ver sehavia vítimas a serem resgatadas o mais rapidamente possível. Aspessoas estavam em pânico, achando que o morro ia cair”, afirmou aagente da Defesa Civil.A primeira vítima socorrida comvida no Morro da Carioca foi Maria da Glória da Silva, de 34 anos. Elahavia saído de casa e estava na rua, se dirigindo à casa do paipara ver se tudo estava bem com ele, quando a encosta desabou. “Quandoeu desci, veio aquele estrondo todo. Aí a casa do vizinho desabou, mepegou e me enterrou. Fiquei presa da cintura para baixo. Eu não podiasair. Eu gritava muito por ajuda e ninguém escutava, porque era muitagente gritando. Teve uma hora que eu pensei que ia morrer e pensei:'Não vou gritar mais'”, disse.Segundo ela, pouco tempo depoisapareceu um vizinho e começou a socorrê-la. Depois outra pessoas e, porfim, os técnicos da Defesa Civil, que haviam ido ao morro para atendera um desabamento de casa e acabaram presenciando um grande deslizamento.Aindacom um hematoma na altura do olho direito, Maria da Glória não consegueparar de pensar naqueles momentos. “Eu vi tudo [o deslizamento]. Euparei, botei a mão na cabeça, corri para um lado, corri para o outro,mas não tinha para onde correr. Até agora, não consigo parar de escutaros gritos de socorro que dei [quando estava soterrada]”, conta avítima, ainda tentando se recuperar do trauma, em um abrigo improvisadonuma escola no Morro do Abel, vizinho ao da Carioca.Thais dosReis conta ainda que, enquanto os técnicos da Defesa Civil prestavam osprimeiros socorros às vítimas, um segundo deslizamentoatingiu o mesmo local, quase colocando em risco a vida dos próprios agentes. “Passou a ser uma área de risco, porque estava sem luz echovia muito”, disse.Depois do resgaste dos poucossobreviventes e da evacuação das casas próximas ao deslizamento, abusca por corpos só seria iniciada de manhã, com a ajuda do Corpo deBombeiros.