Lísia Gusmão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A diplomacia brasileira deve liderar a normalização do processo eleitoral em Honduras em vez de tratar o presidente deposto Manuel Zelaya como “mártir da democracia”, defendeu o professor de relações internacionais Marcelo Coutinho. Segundo ele, a participação brasileira na crise política que abala Honduras desde o golpe de 28 de junho, que tirou Zelaya do poder, faz parte de uma disputa com os Estados Unidos.“A América Central hoje é uma área de disputa entre a influência norte-americana e a brasileira. Toda a América Latina foi, historicamente, área de influência direta dos Estados Unidos. Isso começou a mudar nas últimas décadas. O Brasil tem conseguido deslocar os interesses dos Estados Unidos na América do Sul com relativo êxito”, explicou Coutinho, que coordena o Observatório Político Sul-Americano do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Ele avalia que o Brasil acertou ao acolher Zelaya em sua embaixada em Tegucigalpa, mas “errou a mão” ao recusar o diálogo com o governo golpista de Roberto Micheletti, recorrendo aos mesmos argumentos dos Estados Unidos para sustentar sua “diplomacia intervencionista”: a defesa da democracia.“O governo brasileiro, no caso de Honduras, usa o caminho que ele próprio critica. O Brasil sempre teve uma posição moderada, de inclusão e resolução através do diálogo. O Brasil tem que se comportar como sempre se comportou, como um ator neutro, moderado e que enfatiza saídas multilaterais, inclusivas, não excludentes. Com Honduras, está se comportando de maneira excludente, lançando argumentos que muitas vezes critica nos Estados Unidos”, disse Coutinho. “Isolamento e boicote não resolveram, até hoje, nenhum problema na cena internacional”.Segundo Coutinho, o envolvimento do Brasil com a crise hondurenha pode prejudicar a política externa brasileira. “Não vejo quais interesses brasileiros poderiam ser atendidos neste caso. O que aconteceu em Honduras é um ponto fora da curva. Apenas isso.”