Roberto Maltchik
Enviado Especial da EBC
Tegucigalpa (Honduras) - Os manifestantes que apoiam o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, tomaram conta das ruas do centro da capital Tegucigalpa hoje (31). Milhares de pessoas marcharam por 7 quilômetros para exigir a volta de Zelaya ao poder.Ontem (30) o dia foi marcado por violentos confrontos com a tropa de choque da polícia e com soldados do Exército. Hoje, entretanto, os protestos foram pacíficos e os manifestantes chegaram ao Congresso de Honduras,que resiste em conceder a anistia política para Zelaya e para osmilitares que participaram do golpe de 28 de junho. Houve tensão quando os manifestantes picharam muros de umadelegacia de polícia e quando foram saudados por aliados do movimentocamponês, armados com facões. “Por favor, vamos fazer um protesto semconfusão”, pedia o líder da resistência contra o golpe, Rafael Alegria.Onúmero de apoiadores de Manuel Zelaya aumentou depois queum professor universitário foi ferido com um tiro na cabeça durante osprotestos de ontem.Os apoiadores do governo golpista foram orientados pela Confederação deEmpresas Privadas, principal entidade de apoio ao governo de RobertoMicheletti, a não entrar em confronto com os manifestantes pró-Zelaya. O presidenteem exercício tem o apoio da maioria da população e impõe a condição de que Manuel Zelaya não volte aopoder para deixar a presidência. “Sob nenhuma circunstância deixaremos que ele retorne ao poder”, garantiu Micheletti. A comunidade internacional, entrentanto, rechaça a proposta. Michelettitambém criticou o embaixador norte-americano em Tegucigalpa, HugoLlorens, que ontem esteve na Nicarágua para conversar com o presidentedeposto. O presidente em exercício classificou a visita como uma "intromissão" dos Estados Unidos em assuntos locais.A esposa deManuel Zelaya, Xiomara Zelaya, reapareceu em Tegucigalpa, após cincodias na fronteira com a Nicarágua. Fez um discurso para osmanifestantes e rejeitou a proposta de Micheletti. “Manuel Zelaya é opresidente da República de Honduras. Foi eleito pelo povo e seu mandatosó termina em janeiro”, disse à Agência Brasil.OsEstados Unidos reafirmaram que defendem o acordo proposto pelo mediadorinternacional, o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, para que Zelayavolte ao poder, desde que não concorra à reeleição. Observadoresinternacionais devem chegar a Honduras nos próximos dias para analisara situação do país, mais de um mês depois do golpe em 28 de junho.O toque de recolher na fronteira prossegue de maneira ininterrupta poruma semana. Hoje, após 33 dias, o toque de recolher durante a madrugadafoi suspenso na capital.Para Octavio Sanchez, analista político local e ex-ministro da Cultura, a tensão no país deve prosseguir até janeiro, quando um novo presidente, a ser escolhido nas eleições de novembro, deve assumir. “O que teremos é uma redução no número de pessoas nos protestos, em ambos os lados”, afirmou.