Queda no desmatamento da Amazônia mostra acerto de políticas ambientais, diz Minc

31/07/2009 - 19h18

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A queda de 75% no desmatamento da Amazônia em junho,em comparação com o mesmo mês de 2008, foi comentada hoje (31) peloministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, como tendência positiva, mascom ressalvas: o monitoramento por satélite não incluiu quase a metadedo Pará, encoberta por nuvens, e não é o dado oficial do governo, masda ONG Imazon. Os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe) serão divulgados em pelo menos sete dias.“O Pará é o nossogrande problema, mas, de toda maneira, a redução detectada é um bomsinal, mostra o acerto das políticas desenvolvidas desde o anopassado”, disse Minc, referindo-se à legislação que corta o crédito paraprojetos em propriedades com problemas ambientais e às iniciativas doExecutivo, como barreiras em estradas e fiscalização mais atuante. “O Ibama triplicou no mês passado seu pessoal no Pará, tirou gente de Goiás, de Brasília, para trabalhar duro até agosto.Este é o período grave, quando acabam as chuvas e acontecem osdesmatamentos”, disse o ministro. “O Pará é complicado porque é oestado mais populoso da Amazônia, é o maior exportador de madeira, temo maior rebanho, a situação fundiária mais irregular e ainda tem osproblemas políticos. Tem um deputado, um político, interferindo poralguém.”Apesar dos agravantes e da cobertura insuficiente porsatélite, Minc destacou a redução do desmatamento nas áreas vicinais àsrodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Santarém, bem visíveis nas fotos, oque não se verifica com a área da Transamazônica:“As áreascríticas estão sempre junto às estradas, é lógico. É por onde escoam amadeira, a gente viaja, se leva o gado. Aliás, na questão dapecuária a situação é mais complicada, porque a árvore não sai dolugar, mas o boi...”. O ministro citou, a propósito, o município de SãoFélix do Araguaia, no Pará, como exemplo de fruto da ação positiva doministério.“Foi lá que fizemos o primeiro leilão de boi pirata, que não deu certo. Fizemos a segunda tentativae na terceira conseguimos. Pois o desmatamento caiu de 224 quilômetros quadrados [2007/2008] para 19 quilômetros quadrados [2008/2009]. O pessoal viu o leilão e achoumelhor não arriscar com boi irregular”, disse.  No total, emtoda a Amazônia visível pelo Sistema de Alerta de Desmatamento daImazon, foram desmatados 150 quilômetros quadrados agora, contra 612 quilômetros quadrados em junho do ano passado. Entre agosto de 2008 e junho último, a queda foi de 74%, em relação a agosto 2007/junho 2008. “Nesteacumulado de 11 meses está mais claro o resultado da nossa política”, assinalou o ministro. “Vocês se lembram que quando quisemos cortar o crédito dosproprietários irregulares, o [o governador Blairo] Maggi, de MatoGrosso, foi contra. Mas agora Mato Grosso reduziu o desmatamento de2.074 quilômetros para 368 quilômetros no acumulado, a maior redução de todos osestados, 82%”.O ministro do Meio Ambiente lembrou oprograma Mato Grosso Legal, que incluía o zoneamentoeconômico e ecológico e a regularização de terras e atividadesagropecuárias, como passo fundamental para a nova realidademato-grossense. Depois de algumas reuniões de técnicos locais com os doministério, em Brasília, chegou-se ao texto do programa, seguindo alegislação federal e ao mesmo tempo atendendo as aspirações dosprodutores.“Foi um sucesso, tanto que a [governadora] Ana Júlia copiou no Pará e o [governador] Jaques Wagner, na Bahia. Já o governadorde Santa Catarina [Luís Henrique] fez sua lei particular, não ouviuninguém e hoje está brigando na Justiça”, comentou Minc.Entre 36 dos 43municípios que mais desmatam na Amazônia, Novo Progresso, também noPará, é o que apresenta a redução mais tímida, de 2% da área, mas todostiveram diminuída sua área de desmatamento. O relatório também revela que o principal desmatamento em junho ocorreuem terras particulares, em posses e em terras devolutas, com o total de109 quilômetros quadrados, seguidas das unidades de conservação (32 quilômetros quadrados), assentamentos dereforma agrária (8 quilômetros quadrados ) e terras indígenas (1 quilômetro quadrado). “Nestecontexto, é claro que nos atinge diretamente o desmatamento em unidadesde conservação”, admitiu Minc, que também falou sobre ofinanciamento de 9 milhões de euros para implantar unidades deconservação ao longo da Cuiabá-Santarém: “A BR-163 é a área de maiordesmatamento na Amazônia. O que existe ali hoje é unidade virtual,vamos fazer unidade real de conservação. O problema é que fazer depoisde a estrada existir é difícil, porque a área já está ocupada. Por issonão quero nem falar sobre a construção da BR-319, Porto Velho-Manaus,quero primeiro fazer as unidades.”O ministro se disseconvencido do acerto da política ambiental na Amazônia baseada no ArcoVerde, lançado há dois meses para dar assistência e orientação aosproprietários, na regularização fundiária, no zoneamentoeconômico e ecológico e no Fundo da Amazônia (com recursos suecos).