Crise financeira internacional revela mudança no pensamento neoliberal, diz especialista

02/11/2008 - 23h48

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em meio àcrise financeira internacional, o vice-presidente do ConselhoRegional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon), Paulo Passarinho,reforçou hoje (3) a existência de diversas propostas natentativa de evitar a desaceleração da economia e um possívelcenário de recessão. Para ele, os reflexos dainstabilidade nas bolsas e da cotação do dólarrevelam uma mudança no pensamento neoliberal que predominou nomundo durante os últimos 20 anos.

Ementrevista ao programa Notícias da Manhã, daRádio Nacional, ele comentou artigo divulgado pelarevista britânica The Economist.Segundo a publicação, a próximabatalha dos governos deverá ser a adoção de umapolítica fiscal direcionada para evitar uma recessão, jáque o mundo parece ter conseguido contornar umcolapso no sistema bancário provocado pela crise.

Deacordo com o artigo, os cortes de juros vistos nas últimassemanas não são tão eficientes quanto parecem.Já a decisão de cortar impostos, por outro lado,colocaria mais dinheiro direto no bolso das pessoas. Aumentando ospróprios gastos, os governos, diz The Economist,podem incentivar diretamente a demanda e o emprego.

Passarinhoafirmou estar de acordo com a teoria do corte de impostos que,segundo ele, revela claramente uma mudança de postura dosgovernos e abre caminho para as demandas domésticas. Oespecialista destacou que conferir maior poder aquisitivo àpopulação é conferir a ela capacidadede contribuir para a superação do quadro de crisesimplesmente por meio da estratégia de aumentar o consumo.

“Oelemento mais importante disso seria essa recuperaçãoda idéia dos gastos governamentais como alavanca e comoimpulsionador do crescimento econômico. Nos últimos anosda chamada hegemonia liberal, uma das tônicas era que, por meioda diminuição dos gastos governamentais, haveria mais liberdade para as forças do mercado. Naverdade, é uma falácia, porque os gastos estatais sãomuito importantes, inclusive no sentido de estimular o investimentoprivado.”

ParaPassarinho, a “grande novidade” na história da economiados países é a recuperação do papel doEstado como indutor do desenvolvimento. No caso específico doBrasil, ele lembrou que o país tem se caracterizado, nosúltimos 15 ou 20 anos, pela aplicação de“altíssimas” taxas de juros que possibilitariam ofuncionamento da economia – estratégia que lhe parece "excessiva”.

“Épor isso que acaba se tendo muita tolerância com a idéiade gastos de natureza financeira por parte do governo. Eles acabamsendo positivos porque dão segurança ao investidorestrangeiro mas jogam a sociedade brasileira em uma insegurançatremenda.”

Quanto ao cenário brasileiro, Passarinho destacou que, nos últimos anos, o país registrou taxas decrescimento econômico um pouco maiores do que no governoanterior, embora o grau de insegurança nas grandes cidades temaumentado muito. Segundo ele, a falência dos aparatos de educação,saúde, transporte público e de habitaçãopopular são “evidentes” erepresentam uma espécie de “efeito negativo de uma políticaque sacrifica muito o Estado para pagar, em última, instância,juros”.

“O quesobra é uma pregação constante para que ogoverno diminua gastos na área previdenciária,nos salários do funcionalismo e até mesmo nas áreas deinvestimentos. É notória a necessidade do paísde investir em áreas estratégicas, inclusive nasForças Armadas. A questão social é gritante e,mesmo assim, acaba tendo mais apelo, até agora, esse discursodito liberal.”