Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A decisãode dois grande bancos brasileiros de se fundir no contextode indefinições provocado pela crise financeirainternacional prevalece como “fator positivo” para o país,mas a união de instituições do porte do Itaúe do Unibanco gera “preocupação” no que diz respeito à concentração do mercado bancário. Aavaliação é do economista e professor definanças públicas da Universidade de Brasília(UnB), José Matias Pereira.
“Afusão refletiu imediatamente na bolsa, houve valorizaçãode ações dos dois bancos. Mas tem que haver sempre umapreocupação dos órgãos de governo paraevitar que ocorra perda na ponta para o consumidor a partir de umaconcentração excessiva no setor bancário”,disse hoje (4) em entrevista ao programa Revista Brasil daRádio Nacional.
Pereiralembrou que a nota divulgada ontem (3) pelo Itaú mostra que os bancos já estavam em processo de negociaçãohá mais de um ano. e a crise financeira internacionalapenas acelerou o processo. Instituições com perfilcomo o do Itaú ou do Unibanco, segundo ele, têm características “interessantes” uma vez que sãovoltados para um segmento de pessoas com padrão de renda maiselevado.
“Éuma governança compartilhada e isso mostra que é umprocesso extremamente dinâmico. Mas o consumidor ou o cidadãotem sempre que ficar atento porque toda concentração éuma perda de espaço em termos de competição.”
Oeconomista acredita que o processo deve passar com “uma razoáveltranqüilidade” pela avaliação do Banco Centralmas que será necessário um esforço muito grandepor parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica(Cade). “O nível de concentração desse novomegabanco é muito alto”, disse.
Sobre a possibilidade de a fusão nãoser aprovada, Pereira ressaltou que ambas as instituiçõesestão preparadas para a batalha, com advogados “de muito bomquilate”. Entretanto, ele destacou que caso qualquer outro bancosinta-se prejudicado com o processo, a reação, deacordo com a legislação brasileira, éconsiderada legítima.
“Claroque uma fusão como essa incomoda profundamente. De repente,você tem uma instituição que fala em US$ 330bilhões a US$ 350 bilhões de capital e 4.800 agências.Isso muda todo o contexto bancário. É um quadro quetodo o mercado financeiro do Brasil vai ficar extremamente atento.Você tem um banco que aparece entre os 20 maiores do mundo eque certamente vai ter uma capacidade de competição nomercado mundial muito maior do que a que nós tínhamosaqui até recentemente”.
Questionadose a fusão Itaú-Unibanco abriria caminho para outrasfusões, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal(CEF), o economista avaliou apenas que, “no mundo em que vivemos ecom a velocidade que as coisas acontecem”, é algo que nãopode ser descartado. Seria, segundo ele, uma fusãoextremamente complexa mas que não está fora dediscussão.
“Sehouver uma tendência de concentração no mercadobancário como estamos verificando, todos os demais bancos vãobuscar se fortalecer. O próprio Banco do Brasil, na medida emque tenta comprar o Banco Regional de Brasília (BRB), éuma forma de se fortalecer. O problema é que você nãotem instituições de grande porte para fazer fusõescomo essa [Itaú e Unibanco]. Mas tudo é possíveldiante dessa novidade.”
Parao economista, os contratos feitos por ambas as instituiçõesdeverão ser respeitados até mesmo em uma tentativa demanter a credibilidade dos bancos. “Acredito que não vaihaver perda”, disse. Ele reforçou, entretanto, que dianteda busca por maior eficiência e produtividade, “certamentevamos ter que falar em possíveis perdas de postos de trabalho.A não ser que a própria instituição jádecida, de maneira muito rápida, abrir novas agências”.