Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Parentes de vítimasda violência e jovens que moram na periferia de SãoPaulo fizeram uma manifestação na noite de hoje (16),em São Paulo, para lembrar os 493 mortos da onda de ataques econfrontos policiais ocorrida entre os dias 12 e 20 de maio de 2006em todo o estado. A onda de violência foi atribuída àorganização criminosa Primeiro Comando da Capital(PCC).Para marcar o ato, foiorganizado um velório público em frente à sededa prefeitura municipal, no Viaduto do Chá, e simulado umcemitério com 493 caixões confeccionados em papelcartão preto, cada um deles contendo uma vela e o nome de cadauma das 493 pessoas que morreram nos confrontos.Em um manifesto, osparentes das vítimas exigem do Estado providências paradescobrir o paradeiro dos desaparecidos durante os confrontos. Segundo dados daComissão Especial do Conselho Estadual de Defesa dos Direitosda Pessoa Humana (Condepe), dos mortos em decorrência dosconfrontos, 42 pessoas eram agentes do estado (23 policiaismilitares, sete policiais civis, três guardas municipais e noveagentes penitenciários), quatro eram agentes civis, 17 erampresos e 109 morreram por terem se envolvido em supostas“resistências seguidas de morte”. Os dados tambémapontam que 87 pessoas teriam sido vítimas de grupos deextermínio, com indícios de participaçãode policiais. De acordo com Ariel deCastro Alves, secretário geral do Condepe, apenas 20 dessescasos foram solucionados até o momento, a maioria delesreferente aos casos em que os mortos eram agentes de segurançado estado. “A maioria dos casosestá sendo arquivada sob o argumento, tanto por parte dapolícia quanto do Ministério Público, de queexiste uma dificuldade de testemunha e de provas para esclarecer osfatos”, informou.Segundo o secretário,existe um “desempenho maior” da polícia em apurar os casosde mortes de agentes do estado. “Isso é atécompreensível, mas queremos cobrar que além deesclarecer os assassinatos dos agentes do estado, precisamos que asmortes dos jovens pobres da periferia também sejamesclarecidas”.Francilene GomesFernandes, irmã de Paulo Alexandre Gomes, desaparecido desde odia 16 de maio de 2006, depois de ter saído de casa paravisitar a namorada, acredita que seu irmão tenha sido uma dasvítimas dos ataques. “A gente soube portestemunhas que havia tido uma abordagem policial naquela noite e quedepois dessa abordagem ele não foi mais visto”, disse.Fernanda Cristina deSouza reclamou o desaparecimento do marido, Ronaldo ProcópioAlves, desde o dia 13 de maio de 2006. “Acredito que ele nãoestá mais aqui e que quem pegou ele foi a polícia, quefez alguma coisa ruim com ele e escondeu o corpo, enterrando-o comoindigente”, denunciou. “Ele tem dois filhose uma família. Ele não é indigente. Ele nãoera mendigo. Passaram dois anos e eu não tenho mais nenhumaesperança de que ele esteja vivo”, disse Souza.Em comunicadodistribuído à imprensa, Francilene Fernandes relata queos casos de seu irmão, de Ronaldo Alves e de outrodesaparecido, identificado como Everton dos Santos Pereira,apresentam características semelhantes: todos tinham passagempela polícia, eram negros ou pardos, com baixa escolaridade eviviam em periferias.“Nós,familiares dos desaparecidos, exigimos que o Estado tome providênciasdiante deste triste ocorrido, visando descobrir o que, de fato,aconteceu com nossos entes queridos. Exigimos açõesconcretas, que considerem essas pessoas como cidadãos,sujeitos de direitos e não como criminosos, tratados comorefugo da sociedade, passíveis de serem desaparecidos”,pediu Francilene Fernandes, no comunicado.