Luiza Bandeira
Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O samba carioca pode virar patrimônio cultural do Brasil. O pedido oficial para a declaração do samba de partido-alto, samba de terreiro e samba enredo como patrimônio cultural imaterial foi feito hoje (1), pelo Centro Cultural Cartola, ao Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).A vice-presidente do Centro, Nilcemar Nogueira, disse que o samba, apesar ser uma manifestação da identidade cultural do país, ainda é muito discriminado. Ela ressaltou que o reconhecimento da importância do samba servirá para a valorização da cultura negra. E comentou que o registro das matrizes do samba como patrimônio cultural daria início a um plano de salvaguarda para a preservação e difusão da essência desse gênero musical entre as novas gerações. “Não é uma proposta de engessamento: o samba é uma cultura viva e, como cultura viva, ela é mutante, vai sofrer sempre modificações. Mas a sua essência, a sua base, sua representação máxima, isso ele não pode perder”, afirmou. Caberá agora ao Iphan reconhecer as raízes do samba como patrimônio imaterial do Brasil. O presidente do Instituto, Luiz Fernando Almeida, explicou como se dará o processo de reconhecimento: “Hoje foi entregue um dossiê, do qual nós ainda não temos conhecimento. Nós vamos nos reunir agora com quem fez o dossiê, que é o Centro Cultural Cartola, os pesquisadores e a comunidade envolvidas, para criar um plano de salvaguarda. Ou seja, ele só vai ser registrado se, junto com o processo documental, tiver um plano de ação no sentido da sua manutenção. É o plano de salvaguarda que define que ações devem ser implementadas futuramente”. De acordo com Fernando Almeida, a decisão sobre o reconhecimento das matrizes do samba como patrimônio cultural deve ser feita ainda no primeiro semestre de 2007. Ele informou que o samba de roda do Recôncavo baiano foi declarado patrimônio cultural em 2004, dentro de uma política de reconhecimento e registro das formas de expressão da cultura popular brasileira. “Nós entendemos que isso é um processo de redemocratização da compreensão do que é patrimônio brasileiro. Porque, de uma certa maneira, nós estamos parando de trabalhar somente com um olhar sobre o patrimônio, que era o olhar do suporte material. Agora estamos também trabalhando com aquilo que a gente chama de patrimônio imaterial”, disse.O presidente do Iphan ressaltou que o registro das raízes do samba como patrimônio cultural dará início a um processo de apoio governamental à continuidade da tradição: “O samba faz parte, hoje, do universo de criação popular, ele está sujeito a inúmeras influências como forma de expressão popular. Isso é absolutamente importante que aconteça, isso vai gerar outras formas de criação de expressão. No entanto, é fundamental e é função do Estado trabalhar junto às comunidades no sentido da preservação das formas tradicionais”. O compositor, cantor e sambista Nelson Sargento disse, na solenidade, estar emocionado com o pedido de registro: "É uma cois espetacular. O Brasil sempre teve uma identidade com o samba, mas agora ele tem uma identidade oficializada. O samba está hoje numa posição que pode entrar em qualquer sociedade, mas sem perder a raiz. Ainda há muito terreiro de samba, com chão de terra batida para a gente sambar, e isso é um patrimônio mesmo”.