Indústria diz esperar crescimento maior no próximo mandato de Lula

30/10/2006 - 21h52

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O setor industrial quer ver o país crescer nos quatro anosdo novo mandato do presidente Lula, dentro dos parâmetros anunciados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo própriopresidente antes das eleições. Na reta final da campanha, o governo anunciou que estima um crescimento de 5% em 2006, com projeção deíndices maiores até 2010. De acordo com o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), EdgardPereira, a base para conseguir um cenário favorável ao crescimento éreduzir as taxas de juros. “A sinalização do governo de que vamoscrescer dependerá do declínio da taxa de juros. E isso depende só dogoverno”, afirmou. O Iedi reúne um grupo de 45 empresários industriaisbrasileiros que desenvolve estudos sobre a indústria e odesenvolvimento. Hoje, a taxa de juros básica daeconomia brasileira, a Selic (que serve de parâmetro para indexar ostítulos públicos e, por extensão, todas as operações do mercadofinanceiro) está cotada a 13,75%. Para Pereira, é preciso que a taxaSelic se equipare ao nível de taxas internacionais, na média em 5%. “Tirando a inflação, temos uma taxa real em tornode 10%, que ainda é elevada diante de uma inflação esperada de 3% ao ano”,estimou.Já para a Confederação Nacional daIndústria (CNI), o crescimento prometido pelo presidenteLula pode ser alcançado com a redução nos gastos públicos, com aexecução das reformas fiscal e tributária e com a definição de marcosregulatórios para atração de capital privado, além da redução daburocracia e do investimento em educação. Opresidente da CNI, Armando Monteiro, disse que o setor vê comoprioridade a questão fiscal. “O governo precisa assumir uma novapostura na área fiscal: controlar, racionalizar e até mesmo cortargastos, para que o setor público recupere sua capacidade deinvestimento e para que o setor privado seja desonerado gradualmentecom a redução da carga tributária. Essa é uma questão fundamental parao país poder crescer”, definiu. Na visão de Monteiro, ao solucionarproblemas fiscais, o governo terá dinheiro em caixa para incrementar ainfra-estrutura de transporte, energia, telecomunicações e saneamento,necessária para atrair novos investimentos. A burocracia, lembrou, é sinônimo de ineficiência e de aumentode custos, e gera um entrave para o crescimento. “Um ataquefrontal à burocracia tem o poder de acelerar todo o processo produtivo,da obtenção de insumo à entrega dos produtos”, observou. Outra questãoque deve ser trabalhada pelo governo, na opinião de Monteiro, é oestímulo à inovação para que a indústria se torne mais competitiva,consiga reduzir custos, além de aumentar a oferta de bens e serviços. Maso economista do Iedi, Edgard Pereira, insiste na redução da taxa de juros. “É uma atitude básica, sozinha não é condiçãosuficiente para aumentar o crescimento, mas é necessária para fazer opaís crescer, antes de qualquer outra medida”, enfatizou. Na avaliação dele, essa queda vai liber recursos para deslanchar alguns investimentos necessários paraimpulsionar setores como o de logística (portos, aeroportos eferrovias), saneamento básico e energia. E terá um efeito positivo sobre o mercado de câmbio: “Quando setem taxa de juros mais baixa, diminui o espaço de arbitragem da moedabrasileira”.Para o economista, também a carga tributária é pesada e a reforma, necessária, além da previdenciária: "Num cenário econômico de crescimento propiciado pela queda na taxa de juros, fica mais fácil resolveras pendências nas áreas tributária e previdenciária".O presidente da CNI disse ainda que os empresários vão cobrar do governo sua parte no estímulo aocrescimento e ao desenvolvimento sustentado. “Capital político, o novogoverno acaba de conquistar nas urnas. Os empresários e o Brasil têmpressa. A indústria será uma força atuante no impulso e na cobrançapara que o Brasil se transforme, nos próximos quatro anos, em umaeconomia de alto crescimento”, concluiu Monteiro.