MST espera de Lula "verdadeira reforma agrária"

30/10/2006 - 19h58

Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O primeirogoverno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez as "mudançasprofundas" que o país precisa, na avaliação de Marina dos Santos,coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)."Mas, ainda assim, Lula representa simbolicamente os anseios popularese a possibilidade maior do povo participar dos rumos do governo", afirma a coordenadora.Essa identidade levou o MST a ser um dos movimentos sociaisque apresentou apoio e reivindicações para a reeleição de Lula. No entanto, segundo Marina dos Santos, avitória eleitoral não deve fazer com que os movimentos sociais esqueçamos "erros" dos quatro primeiros anos de governo. "Vamoscontinuar organizando a população para ocupar terras improdutivas epressionando o governo a fazer uma verdadeira reforma agrária no país."O MSTconsidera baixos o número de famílias assentadas durante o governo Lulae pede que seja retomada a meta da versão original do Plano Nacional deReforma Agrária. O plano previa o assentamento de 1 milhão de famílias emquatro anos. "A começar pelas 200 mil famílias que estão acampadas emocupações de terra", diz a coordenadora do MST.Outrasmudanças no processo de reforma agrária estão na pauta do MST. Marina dos Santos considera que o presidente tem uma"dívida" com o movimento por  conta de promessas feitas no primeiro mandato. Umadessas promessas é a revisão dos índices de produtividade, que medem seuma terra é produtiva ou não.Os atuais números foram estabelecidos em1980 a partir de dados estatísticos de 1975. Com a atualização dosíndices, a expectativa é de que propriedades rurais consideradasatualmente produtivas possam ser desapropriadas para a reforma agrária.O MST também reivindica a criação de uma linha de crédito específica para o assentado.Atualmente, ele tem de recorrer ao Programa Nacional de Fortalecimentoda Agricultura Familiar (Pronaf).De acordo com o movimento, o agricultor recém-assentado tem necessidades diferentesdos outros produtores familiares por não ter ainda realizado nenhumplantio nem construção em seu terreno. Por isso, precisaria de umcrédito inicial para investimento.Além dapauta da reforma agrária, o MST pretende pressionar o governo Lula pormudanças em outras áreas, principalmente a econômica. Para isso,planeja "fortalecer alianças com outras organizações sociais". "A bandeira que nos une é a da mudança do modelo econômico,rompendo de vez com o que foi herdado do governo de Fernando HenriqueCardoso, baixando mais os juros e diminuindo o ajuste fiscal", explica a coordenadora do MST.Paraconseguir tais mudanças, o movimento considera que encontrará um cenáriopolítico diferente no segundo mandato de Lula. Ainda não seria possível saber qual peso os grandes produtores doagronegócio terão no próximo governo.No entanto, Marina dos Santos considera simbólico o apoio a Lula do governador reeleito do Mato Grosso,Blairo Maggi (PPS), maior produtor de soja do país. Ainda assim, ela avaliaque os ruralistas perderam poder no Congresso Nacional e também nosgovernos estaduais, com a derrota de oligarquias tradicionais na Bahia,Ceará e Maranhão.