Furlan critica brasileiros que defendem proteção à agricultura

16/12/2005 - 20h03

Mylena Fiori
Enviada especial

Hong Kong – O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, criticou hoje (16) a participação de brasileiros em protesto organizado por lideranças de entidades de defesa dos pequenos produtores rurais e camponeses, durante a 6ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Furlan passava pelo local em direção a uma reunião e ao ouvir o apitaço dos ativistas e ver os cartazes com nomes de entidades representativas de pequenos agricultores de diversos países, parou e questionou como os brasileiros podiam estar fazendo uma manifestção contra a liberalização do comércio agrícola, ao lado de produtores franceses. A França é o país que mais resiste ao fim dos subsídios e à abertura do mercado europeu aos produtos agrícolas dos países em desenvolvimento.

Em entrevista a jornalistas estrangeiros, o ministro destacou que o Brasil é o maior exportador mundial de frangos, por exemplo, e que tanto a produção de frango quanto a de porco são baseadas nas pequenas propriedades. Segundo Furlan, se não houver abertura de mercado em agricultura, o mundo ficará mais pobre. "Na Europa, os subsídios estão criando obstáculos para os países pobres desenvolverem sua produção e as pessoas que ganham dinheiro sob o guarda-chuva do protecionismo não querem abrir mão disso", disse. E argumentou: "Se abrirmos a agricultura, os paises pobres terão a oportunidade de aumentar renda. Aumentando renda, consumirão outros produtos, incluindo produtos do primeiro mundo".

A reação do ministro irritou os agricultores brasileiros. "O ministro representa 10% dos produtores brasileiros. Estamos aqui em nome de mais de 3 milhões de agricultores familiares do Brasil que produzem quase que apenas para a subsistência de suas famílias ou para o mercado microregional, não produzem para o mercado externo. Estes, o ministro não representa, sobre estes, ele não fala", reagiu o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch.

Como exemplo dos efeitos nocivos da liberalização do comércio, Broch mencionou a situação dos produtores de leite brasileiros. Segundo ele, se as tarifas de importação caíram para menos de 10%, serão excluídas desse tipo de produção um milhão das 1,8 milhão de famílias que hoje produzem leite no Brasil.

Em 2003 e 2005, as organizações de agricultores de 33 países se reuniram para analisar o impacto das regras comerciais sobre as suas condições de vida e o futuro da profissão. Os encontros levaram à assinatura de declarações comuns nas quais afirmam que a agricultura não deve servir como moeda de troca e destacam que o essencial não é o acesso aos mercados internacionais, mas sim orientar a produção para o mercado doméstico e fazer uma reforma agrária a fim de erradicar a fome da população rural.

No Brasil, a agricultura familiar responde por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário e por 10% da economia do país. Em todo o país há cerca de 4,5 milhões de famílias de produtores agrícolas, dos quais 4 milhões são agricultores familiares que, segundo a Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), têm menos de 30% da área e menos de 30% do crédito agrícola público do país.