''Mapeamos toda concentração que favoreça a prostituição infantil'', diz inspetor

29/05/2005 - 17h25

Em entrevista à apresentadora Natália Leite, do programa NBR Manhã, da NBR (canal de TV a cabo da Radiobras), na última terça-feira (24), o inspetor Giovanni Di Mambro, chefe da Divisão de Combate ao Crime da Polícia Rodoviária Federal (PRF), fala sobre as medidas adotadas pelo órgão para combater a exploração sexual infantil.

NBR: Uma das metas do governo federal é acabar de vez com a prostituição infantil. Para isso, ele conta com um aliado importante: a Polícia Rodoviária Federal, que já mapeou mais de 800 pontos de beira de estrada. As meninas fingem pedir carona e acertam o preço do programa dentro do carro ou do caminhão. Giovanni Di Mambro é chefe da Divisão de Combate ao Crime da Polícia Rodoviária Federal, e tem as informações sobre o mapeamento que acaba de ser concluído. Bom dia. Bom, como é que a polícia realiza esse trabalho? São identificados os bares ou postos, por exemplo, que participam desse esquema? Existe uma estrutura que favorece essa exploração nas estradas do Brasil?
Giovanni Di Mambro: Perfeito. A Polícia Rodoviária Federal, considerando a sua capilaridade – ela está presente em todo o território nacional, em postos e delegacias –, vem acompanhando, no dia-a-dia, pontos de vulnerabilidade. Quais são esses pontos? Pontos que ofereçam concentração, o transporte da riqueza, pontos de concentração de diversão noturna, enfim, bares, boates, postos de gasolina, postos fiscais, motéis, hotéis, vilarejos, restaurantes... Então, toda concentração que favoreça a exploração sexual infantil foi mapeada nas rodovias e estradas federais.

NBR: Inspetor, dia 18 foi lançada a campanha dos caminhoneiros contra a exploração sexual com a Confederação Nacional de Transportes, Senado, Secretaria de Direitos Humanos e Ministério da Justiça. Qual a importãncia dessa união da PRF com os caminhoneiros para combater esse tipo de delito?
Di Mambro: Olha, o prisma rodoviário, nós vemos como a principal aliada da Polícia Rodoviária Federal a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abicam). Ela já é uma parceira nossa já há algum tempo, já vimos fazendo tratativas já há algum tempo de conscientização. Nós não podemos estigmatizar uma categoria, não são os caminhoneiros que promovem a exploração sexual. São motoristas, pessoas desavisadas, desinformadas da legislação e a própria estrutura de riqueza da região.

NBR: Inspetor, mas o que está nesse relatório, nesse estudo? É possível identificar uma região onde o problema é mais grave, os estados onde a situação é mais crítica? E o que vai ser feito a partir disso?
Di Mambro: Bom, na verdade, é um levantamento para formular políticas de repressão e de prevenção. Nós fizemos todo esse levantamento, compilamos nesse documento e ele vai ser objeto de análise para orientar operações, que inclusive já estão em andamento.

NBR: Em que regiões foram detectados os maiores problemas?
Di Mambro: São problemas distintos. É um país continental, nós temos o escoamento da safra na região Nordeste e Norte, que é impactado por uma questão de pobreza e extrema miséria. Então, existe o êxodo rural, as concentrações são mais em perímetros urbanos. E existe no Centro-Oeste, no próprio Sudeste, pulverizada ao longo da malha rodoviária. Então, não tem assim uma região problemática. Existem pontos de forma, de concentrações diferentes.

NBR: E o problema é a pobreza, são as próprias famílias que exploram essas crianças, esses adolescentes?
Di Mambro: Esse é um problema que a Polícia Rodoviária Federal enfrenta. Por estarmos em todo o território nacional, em algumas regiões não contamos com o apoio de estruturas de suporte, como um conselho tutelar, uma vara especializada, uma delegacia especializada. Então, muitas vezes, a nossa equipe, ao deparar com o problema, encaminha a menor à tutela da família, e já constatamos que em algumas ocasiões a própria família é que fomenta esse abuso e essa exploração.

NBR: Houve um treinamento especial para os agentes identificarem esses problemas nas estradas?
Di Mambro: Essa questão do combate à exploração sexual juvenil é uma ação de governo. Contudo, a Polícia Rodoviária Federal já vem trabalhando isso já há algum tempo. Em todas as nossas reuniões operacionais, seminários, fóruns internos a gente procura trabalhar esse assunto, porque é um delito de difícil identificação, a consumação dele também é muito tênue, mas o problema maior é preservar a integridade da menor. Mesmo que você não depare com o crime, em si, a própria exposição da menor ao risco já é motivo de atenção da Polícia Rodoviária Federal.