Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Cenas do sofrimento de Jesus até o calvário e logo depois um almoço farto para aqueles que jejuam forçosamente quase todos os dias do ano. Este foi o presente de Páscoa que o grupo católico Fraternidade Pastoral de Maria, de Brasília, ofereceu neste sábado (26) a cerca de 300 moradores de rua da capital federal. Pela manhã, eles se reuniram na Catedral Militar Rainha da Paz e assistiram atentamente ao teatro dos voluntários, que contou a via sacra de Jesus do tribunal de Pilatos até o calvário.
"É para celebrar a paixão de Cristo, mas mostrar que a paixão de Jesus não termina na cruz, mas continua nas pessoas pobres. No sofrimento do mundo, em toda a doença, em todo vício está o sofrimento", explicou o arcebispo militar do Brasil, Dom Geraldo Ávila.
Durante a encenação, foram mostrados alguns quadros da vida de Jesus no caminho do calvário e também o sofrimento de prostituas, bêbados e doentes, representando o sofrimento da humanidade. Para Dom Geraldo, a celebração ajuda os pobres a agüentar o sofrimento e a sair dele.
"Porque não é para ficar debaixo da cruz a vida inteira, é para lutar. Muita gente se conforma com a realidade, vive e não faz esforço, mas a gente quer também ajudar eles a se libertarem da dor, do sofrimento, das dificuldades e a viver de uma maneira mais digna".
Depois da encenação foi servido o almoço, preparado por 911 voluntários. No cardápio, feijão com arroz (o famoso "baião de dois") e carne seca. A sobremesa, rapadura em tabletes, também agradou os moradores de rua, em sua maioria nordestinos e mineiros. A coordenadora do grupo Fraternidade Pastoral de Maria, Graciliana Teles, conta que com o auxílio da comunidade e de empresas foram arrecadados para o almoço 155 quilos de carne, 30 de feijão, 30 de arroz e 450 litros de refrigerante.
"É para que os nossos irmãos, que são sobretudo nordestinos e mineiros, possam apreciar. Porque isso faz parte da mesa deles. Como eles fazem jejum o ano inteiro, hoje é dia do banquete para aqueles que passam fome".
A moradora de rua Eliane dos Santos Santana, 26 anos, agradecia a oportunidade de ver os três filhos comendo e se divertindo. "Pelo menos eu estou andando, minhas filhas tão comendo e se divertindo, porque ficam sempre só dentro do cerrado e do mato. A Páscoa para mim é importante", afirmou.
"As pessoas que estão vindo aqui hoje são convidados muito especiais. Realizamos este trabalho porque a igreja quer dar um sinal visível à sociedade de que essas pessoas são fruto daquilo que não desejaríamos, da renda concentrada, da distribuição injusta", disse dona Graciliana. No resto do ano, o grupo Fraternidade Pastoral de Maria distribui sopa todas as noites para cerca 1.600 moradores de rua.