Modelo de universidade hoje tem resquícios da ditadura, diz líder estudantil paranaense

26/03/2005 - 19h26

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Apesar do nível sócio-econômico mais elevado da população, em comparação com regiões mais carentes do país, o estado do Paraná também tem problemas sérios no ensino superior que os estudantes esperam que sejam resolvidos com a reforma universitária. O vice-presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Edmir Maciel, aponta, por exemplo, os cursos oferecidos não-regulamentados oferecidos por universidades particulares.

"No estado do Paraná são abertos muitos cursos. É uma falta de regulamentação total e esperamos que, com a reforma, possa começar a melhorar", disse. "O modelo de universidade que a gente vive ainda traz resquícios da época da ditadura e não acompanhou a evolução tecnológica e científica de uma forma em geral. Há evoluções, mas não são de uma forma mais sistêmica. Falta regulamentação, em geral, às universidades privadas. O que a reforma universitária propõe é um avanço, mas não é o suficiente, precisaria regulamentar mais".

Segundo ele, os estudantes paranaenses lutam para que haja a criação de um capítulo no anteprojeto do governo que trate das universidades estaduais e municipais. "As universidades estaduais, por exemplo, têm um patrimônio muito grande acumulado, têm 68% da rede do estado de ensino superior", informou.

Edmir faz críticas ao modelo mais comum hoje de ensino superior, totalmente voltado para o mercado de trabalho. "É um momento ímpar pelo fato de pensar em um sistema integrado que pense no desenvolvimento nacional e científico para o nosso país e não que só leve em consideração o mercado de trabalho. A universidade é mais do que isso".

Ele participa do 54° Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE (Coneg), que definirá as sugestões dos estudantes à proposta de reforma do Ministério da Educação (MEC). O prazo final para as sugestões é o próximo dia 30. Entre as propostas da UNE estão a composição paritária entre docentes, estudantes e funcionários nos conselhos das universidades e o fim da lista tríplice para escolha do reitor; controle de mensalidades das instituições particulares; e um Plano Nacional de Assistência Estudantil, que tem como objetivo viabilizar a permanência dos estudantes na universidade.

Algumas medidas propostas pela UNE, segundo Edmir, deverão enfrentar resistências, principalmente no Congresso Nacional. "O lobby no Congresso Nacional não será dos menores", disse.

Segundo o presidente da UNE, Gustavo Petta, os estudantes vão pressionar os parlamentares. "Vamos procurar as bancadas, conversar com os deputados nos estados, ganhar uma base parlamentar que possa defender as reivindicações da UNE no parlamento. A batalha não é fácil. Existe uma composição muito difícil no Congresso Nacional em relação a posições mais progressistas. Eu acho que há possibilidades, se houver pressão, mobilização, e o movimento estudantil tem que cumprir esse papel de pressionar o Congresso para aprovar medidas que contemplem reivindicações históricas do movimento educacional brasileiro", afirmou.