Brasília, 8/3/2005 (Agência Brasil - ABr) - A crise boliviana não é exatamente um conflito político nem econômico, mas sim um problema social muito difundido na América do Sul, com descontentamento e movimentos de massa, já que o nível de emprego e o de renda estão muito baixos. Na análise do professor de Relações Internacionais Amado Luiz Cervo, da Universidade de Brasília (UnB), "esta é uma herança que os países do continente trazem das chamadas experiências neoliberais dos anos 90 – em quase todos os países a situação social se agravou muito".
Para o especialista, "como a Bolívia é um dos países mais pobres da América do Sul, essa situação é mais grave". Ele explica: "Lá há uma massa de camponeses muito pobres – os benefícios da modernidade não chegam até eles. Eles estão cada vez mais furiosos e mostram seu descontentamento protestando contra o governo, fazendo arruaças, trancando ruas e fazendo passeatas enormes." E ressalta que aproximadamente 40% da população vivem abaixo da linha de pobreza: "Essa gente vai continuar se manifestando enquanto não houver esperança."
A aprovação da proposta de elevar para 50% a taxação sobre o faturamento das empresas multinacionais, que está no Congresso, é "uma irracionalidade", de acordo com o professor. "Hoje a tendência é tributar os investimentos estrangeiros da mesma forma que se tributa o capital nacional. Os países ricos não admitem que o capital estrangeiro tenha tratamento diferenciado", analisa.
Amado Luiz Cervo ressalta ainda que "a margem de manobra de um governo é muito pequena, ele tem que obedecer a certas normas impostas pela ordem internacional. A Bolívia não pode se iludir e querer, agora, sair disso."