Camponesas entregam manifesto na Fazenda contra cortes no Orçamento e agronegócio

08/03/2005 - 14h21

Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Cerca de 60 mulheres da organização Via Campesina promoveram uma manifestação na porta do Ministério da Fazenda, enquanto um grupo de cinco representantes foi recebido pelo secretário-executivo do ministério, Bernard Appy. Elas entregaram um manifesto contra os cortes no Orçamento Geral da União na área de reforma agrária e contra o agronegócio.

A manifestação marca o Dia Internacional da Mulher. Segundo a assentada Marlei Soares, "perante a sociedade, o 8 de março é para ser comemorado e um dia bonito, mas para as mulheres sem terra é o dia de reivindicação pelos direitos enquanto mulheres e pela reforma agrária".

Para o movimento, os cortes e o agronegócio estão entre as causas da miséria no campo. Os manifestantes afirmam no documento que são os pequenos agricultores que enfrentam no campo as conseqüências econômicas, políticas, sociais e culturais do modelo adotado pelo governo, "que intensifica a exploração, gera e aumenta a violência e a discriminação contra as mulheres e a classe trabalhadora". As manifestantes alegam que quem mais sofre, quem mais empobrece e mais morre no campo são as mulheres.

O manifesto lembra que as mulheres camponesas e sem terra pertencem à classe trabalhadora, que tem uma história de lutas pelo direito no país. Elas afirmam que sofrem no campo as imposições do modelo agrícola que privilegia o agronegócio, o crescimento do latifúndio, da monocultura e da produção para a exportação. Segundo as manifestantes, esse é um modelo que se consolida com a implementação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o pagamento da dívida externa, os acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional), as políticas da OMC (Organização Mundial de Comércio) e do Banco Mundial.

As manifestantes exigem a imediata recomposição do Orçamento, que cortou mais de R$ 2 bilhões somente no Plano Nacional de Reforma Agrária, comprometendo as metas estabelecidas; crédito especial para as mulheres camponesas, acompanhado de direitos sociais para que elas permaneçam no campo produzindo alimento de qualidade e com dignidade; que o cadastro de beneficiários de reforma agrária do Incra contenha o nome do homem e da mulher como beneficiários.

O manifesto pede também medidas urgentes de prevenção, combate e superação de todas as formas de violência praticadas contra as mulheres; punição dos responsáveis diretos e indiretos pelos assassinatos no campo, inclusive das autoridades que se omitiram nas providências contra as permanentes ameaças sofridas por trabalhadoras e trabalhadores rurais. Por último, elas reivindicam mudanças imediatas na política econômica, que privilegia os banqueiros.