Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Trecho de discurso proferido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje, no Espírito Santo, gerou debate no Congresso. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) e o do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia, disseram que o presidente pode ser processado. O vice-líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), subiu à tribuna para fazer a defesa de Lula.
Após visitar obras da Estação de Tratamento de Óleo Fazenda Alegre, da Petrobrás, Lula disse que, no início de seu governo "um alto companheiro" teria lhe dito que "o processo de corrupção" em governos anteriores tinha sido muito grande. "Eu me lembro de um momento, logo no início do governo, quando um alto companheiro meu, de uma função muito importante, foi prestar contas de como tinha encontrado a instituição em que ele estava trabalhando – e me permitam, aqui, não dizer o nome da instituição – e ele me dizia simplesmente o seguinte: ‘Presidente, a nossa instituição está quebrada, estamos falidos. O processo de corrupção que aconteceu, antes de nós, foi muito grande. Algumas privatizações que foram feitas em tais lugares levaram a instituição a uma quebradeira’".
O presidente disse que, ao tomar conhecimento do relato, determinou ao seu subordinado: "Olhe, se tudo isso que você está me dizendo é verdade, você só tem o direito de dizer para mim. Para fora, feche a boca e diga que a nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento deste país".
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), disse que seu partido vai processar o presidente pelas declarações. Em nota à imprensa, ele afirma que "o PSDB está tomando providências para processá-lo. É inaceitável, e até sujeito a ‘impeachment’, comportamento como esse do presidente da República, que tem de apresentar-se sempre com sobriedade e responsabilidade perante a Nação".
Para o líder da Minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), as declarações do presidente caracterizam Crime de Responsabilidade, previsto no artigo 85 da Constituição Federal. Aleluia disse que, se forem verdadeiras as circunstâncias, o presidente agiu contra a probidade administrativa se não determinou a investigação das denúncias de corrupção. Segundo o pefelista, Lula também incorreu contra o cumprimento das leis e das decisões judiciais, ao impedir a investigação.
O vice-líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio, subiu à tribuna e afirmou que o presidente "seria irresponsável se tivesse denunciando corrupção, tornando-a pública antes da sua apuração". Luiz Sérgio acrescentou que o governo Lula "é intransigente com a corrupção".
Luiz Sérgio disse que as investigações sobre os casos citados pelo presidente serão apuradas e divulgadas. "Há muitas dúvidas sobre os processos de privatizações, ligações telefônicas, inclusive do presidente (Fernando Henrique Cardoso) a grupos que estavam se formando. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem de ser imparcial nesta questão e só pode divulgar aquilo que for apurado".