PPS aprova saída do governo, entrega dos cargos e independência nas votações

11/12/2004 - 17h42

Rio, 11/12/2004 (Agência Brasil - ABr) - O diretório nacional do PPS aprovou há pouco a proposta do seu presidente, deputado federal Roberto Freire (PE), de desligamento do partido da base aliada, entrega dos cargos e independência nas votações de interesse do país.

Os membros do diretório passaram todo o sábado reunidos no Hotel Guanabara, no Centro da cidade, para decidir se o partido deveria ou não deixar a base aliada do governo. Ao encaminhar a proposta, Roberto Freire negou que o partido esteja querendo fazer parte de um bloco da oposição, mas criticou ol governo Lula, classificando-o de conservador e continuísta.

A proposta provocou acaloradas durante a reunião. O líder do partido na Câmara dos Deputados, Júlio Delgado (MG), disse que o principal motivo da ligação entre o PPS e o governo federal é a "postura íntegra do governo Lula" e acrescentou:

"Nunca um governo neste país foi tão competente no combate à corrupção, como mostra a ação da Polícia Federal em vários segmentos, atingindo de políticos a juízes. Um grande exemplo é a operação no Tribunal de Contas da União". Ele negou que a bancada tenha feito nomeações para cargos públicos no atual governo e rebateu as afirmações de Roberto Freire de que o partido perdeu sua independência ao permanecer na base aliada:

"Nossa independência é tão consistente e tão forte que em Minas Gerais nos coligamos com o PT e em Goiás com o PSDB. E quem não torceu pelas vitórias do José Fogaça e do Bernardo de Souza, contra o governo, em Porto Alegre e em Pelotas? A força e a união do nosso partido está na independência e na unidade de nossas posições regionais".

A prefeita de Boa Vista, Teresa Jucá, afirmou que o afastamento do partido da base aliada pode fortalecê-lo, mesmo que a decisão provoque alguma represália por parte do governo federal: "Faço a opção para que o partido parta para a liberdade. Assim, vamos nos fortalecer e conquistaremos respeito", disse.

Já a deputada Denise Frossard afirmou que o PPS precisa construir seu próprio caminho e afirmou que a permanência do partido na base aliada do governo é anti-ética e uma postura incoerente para um partido que defende a independência:

"Não podemos fazer isso com Lula, seria uma deslealdade. Por isso, sou a favor de sairmos da base e contruirmos o nosso caminho. Somos uma alternativa política para o país, a sociedade já viu isso, e temos que aproveitar esse fato". Apesar de a votação ainda não ter começado naquele momento, Denise Frossard demonstrou otimismo e pediu que aos que não concordassem com a proposta que "respeitem a democracia e aceitam a decisão da maioria, ficando no partido".

A defesa da manutenção da aliança com o governo pelo atual prefeito de Sobral, interior do Ceará, Cid Gomes, provocou tensão entre os membros do Diretório. Ele reclamou da pressão com que muitos encaminharam as discussões e argumentou que, para tomar uma decisão tão importante, o PPS teria que ouvir mais as urnas, os prefeitos, vereadores e deputados eleitos.

Cid Gomes alertou ainda os membros do Diretório Nacional do partido de que é preciso entender os resultados da macroeconomia brasileira para que se possa avaliar com maior precisão o governo Lula. Para o prefeito, os indicadores da economia estariam sendo positivos, apesar dos resultados da administração de Fernando Henrique Cardoso, que classificou de "herança maldita".

Já o deputado federal Nelson Proença (PPS-RS) propôs, que o partido entregasse seus cargos na administração federal, mas mantivesse o apoio ao governo Lula a fim de garantir a governabilidade: "A entrega dos cargos é necessária. Precisamos preservar uma opção de esquerda (o PPS), caso o governo Lula dê errado".

A senadora Patrícia Gomes, do Ceará chegou a pedir a prorrogação das discussões, argumentando que os dirigentes e militantes do partido precisavam de tempo para formar uma opinião mais clara sobre o assunto. Para ela, uma vitória por margem pequena de votos enfraquecerá o partido e, com isso, "ninguém sai vitorioso e o partido fica enfraquecido, em um momento que o país exige dele mais presença" .

Por volta das 6 e meia da tarde, prevaleceu a vontade dos que querem a saída do PPS da base governista: eles aprovaram a proposta com ampla maoria, numa votação simbólica. O partido não definiu quando deve acontecer a entrega dos cargos.