Incra garante que vai assentar famílias de sem-terra que invadiram sua sede

25/11/2004 - 20h52

Brasília, 25/11/2004 (Agência Brasil - ABr) - "O Incra está encaminhando todos os processos de obtenção dos imóveis reivindicados por essas famílias, mas temos problemas judiciais com alguns deles, que fogem do alcance do Incra, e com outros estamos em negociação, porque as áreas são produtivas e, nesse sentido não é possível fazer a desapropriação e sim a negociação via compra e venda".

Essa foi a explicação dada pelo superintendente nacional de Desenvolvimento Agrário do Incra, Carlos Guedes, aos sem-terra que invadiram hoje a repartição para reivindicar o assentamento de 500 famílias no Triângulo Mineiro e Sudoeste de Goiás. De acordo com Guedes, 133 famílias já foram assentadas em dois projetos no Triângulo Mineiro, em áreas que representavam antigas pendências resolvidas pelo atual governo. Segundo ele, todos os imóveis apresentados na pauta de reivindicações do movimento já estão sendo encaminhados para possível aquisição.

Os manifestantes pertenciam ao Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) e cerca de 300 pessoas participaram do protesto em frente à sede do Incra, no Setor de Autarquias Norte, no final da tarde. Na tentativa de evitar a invasão ao prédio, os policiais usaram bombas de efeito moral e disparos de balas de borracha. Pelo menos 12 pessoas foram feridas durante o confronto, mas, mesmo com o tumulto, cerca de 130 militantes conseguiram entrar no prédio e ocuparam dois andares para um tentar um encontro com a Ouvidoria Agrária.

O integrante do MTL Luís Carlos Galante Barroso disse que o governo prometeu assentar essas famílias, mas nada foi feito até o momento. "Nós estamos há um ano e meio com a pauta e não tem nenhum avanço, nenhum resultado aqui do Incra. O superintendente daqui se comprometeu a assentar 500 famílias até março do ano passado, 1,7 mil até novembro deste ano, mas nenhuma família foi assentada", explicou.

Luís Carlos disse ainda que os manifestantes só vão se contentar quando houver uma negociação. "Nós vamos ficar aqui por tempo indeterminado. Vamos esperar e cobrar do governo responsabilidade com os sem-terra. Nós estamos acampados há seis anos, passando fome, e nem a cesta básica do Fome Zero tem chegado aos nossos acampamentos".

Membro da coordenação nacional do MTL Joselito Ferreira da Silva, disse que "as negociações não avançam. Nós estamos com a última pauta de 26 de maio deste ano e até agora não tem nenhuma família assentada. A nossa ocupação tem o caráter de denunciar a política econômica do governo. Não temos mais condições de esperar".

Segundo Joselito, as 133 famílias que o superintendente de Desenvolvimento Agrário do Incra disse terem sido assentadasque não existem: "As famílias foram, na verdade, pré-assentadas e não receberam crédito-educação e Pronaf, entre outros benefícios. Portanto, nós não consideramos assentadas. Isso é pacifico do governo Fernando Henrique, não foi desapropriação do governo Lula". Uma nova reunião foi marcada para amanhã à tarde para a retomada das negociações.