Christiane Peres
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), presente na Conferência Nacional Terra e Água, em Brasília, defende mudanças drásticas no atual modelo energético brasileiro. O representante da direção nacional da entidade, Marco Antonio Trierveiler, apresentou as contradições do modelo e enfatizou que ele "só prejudica a população".
"Ao mesmo tempo em que o Brasil é um país exportador de energia, cinco milhões de famílias brasileiras não têm energia elétrica em casa. E grande parte delas moram ao lado de grandes usinas hidrelétricas e que não têm energia elétrica", explicou.
O MAB calcula que 100 mil famílias perderão suas terras nos próximos três anos devido aos projetos de construção de usinas hidrelétricas. Segundo Trieveiler, 32% da energia produzida é usada pela indústria pesada e não traz benefício algum para a população. "Quem constrói as barragens no Brasil são grandes empresas mundiais, e na sua maioria, usufruem dela sozinhas. Qual a finalidade disso para o povo?", questiona.
O movimento também contesta o atual modelo energético brasileiro devido aos altos custos sociais e ambientais. A construção das hidrelétricas expulsou um milhão de pessoas das suas casas e inundou 34 mil Km² de áreas de florestas.
Já a ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, defende o modelo atual e diz que algumas opiniões são emitidas por "falta de conhecimento". "Muita gente diz que tem que ser feita a energia eólica, mas para um parque eólico precisa-se de 1000 km². As pessoas defendem esse tipo de energia porque não conhecem e são convencidas de que é melhor. Energia gera impacto. Não há milagre."
Trieveiler diz que a ministra não atingiu o que ele acredita ser o debate central. "O que nós queremos é melhorar a energia para a população. Deveríamos discutir qual a melhor forma de produzir energia, para quem produzir, de que forma utilizar. Tudo isso, em prol da melhoria de vida do povo brasileiro."
Para o dirigente do MAB, a Conferência é um momento marcante, pois reúne representantes de movimentos sociais e do governo para debater um tema, geralmente, esquecido: a energia. "A gente só se lembra dela quando falta. É momento histórico porque junta várias representações sociais e governo num mesmo debate. E o governo tem muito a aprender com povo."