Para Stédile, objetivo final da reforma agrária é reorganizar agricultura familiar no país

17/07/2004 - 16h38

Olga Bardawill
Repórter da Agência Brasil

Fortaleza - "É da natureza democrática da sociedade que os movimentos continuem pressionando o governo", declarou nesta sexta-feira à Agência Brasil o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem terra (MST) João Pedro Stédile. Ele veio à capital cearense para um debate com alunos de comunicação na Universidade Federal do Ceará.

"Ai do governo que não tenha pressão democrática que certamente vai ser um governo refém do capital e do povo econômico. A única arma que o povo tem é ele se organizar e se mobilizar", completou.

Recusando o rótulo de "invasão", Stédile disse que o MST vai continuar a "ocupar as terras improdutivas" para pressionar o governo a acelerar o processo de reforma agrária. "Nós fizemos um acordo com o governo, para que, ao longo dos próximos três anos, assentasse 400 mil famílias. Mas a reforma agrária não é só uma questão de número de famílias que vão ser assentadas. Isso é um detalhe. A reforma agrária é mais do que distribuir terra. Ela é na verdade um grande processo de reorganização da agricultura familiar".

Stédile acrescentou que a agricultura familiar deve representar "um processo de distribuição de renda, um processo de priorização do mercado interno". Ele reconheceu que "há boa vontade do governo", mas disse que o Estado brasileiro "não está preparado para atender pobre" e que o Incra é "uma máquina enferrujada". Além disso, afirmou Stédile, a política econômica não mudou.

"A reforma agrária não cabe na atual política econômica que, como disse o ministro Palocci, é a continuidade da política do Fernando Henrique. Daí porque o MST tem feito criticas de que é preciso mudar a política econômica atual", finalizou.