Relação entre países dos dois hemisférios não favorece diversidade cultural, diz professor

02/07/2004 - 19h40

Fabiana Uchinaka
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - A relação cultural entre os países do hemisfério norte e do sul segue uma tradição histórica que privilegia o monopólio e a hegemonia dos mais ricos sobre os mais pobres. Essa foi a conclusão do debate Conectando o mundo: uma política cultural para as relações sul-sul, realizado hoje no Fórum Cultural Mundial, em São Paulo.

Para o professor George Yúdice, da Universidade de Nova Iorque, a lógica das relações entre países dos dois hemisférios não favorece o desenvolvimento da diversidade cultural e das relações humanas. Em apresentação conjunta com a diretora da Incorpore, Silvie Duran, ele explicou que as relações norte-sul seguem uma tradição histórica que ficou marcada pela exploração econômica e pelo passado colonialista.

"Os países do sul têm em comum uma história de exploração. São regiões de menor valor agregado, que mandam matéria-prima para os países desenvolvidos, que proporcionam mão de obra barata e oportunidades de investimento altamente lucrativas. São, portanto, a periferia do centro dinâmico do capitalismo", disse Silvie.

Yúdice afirmou que atualmente se percebe uma acentuada remessa cultural. "A classe baixa operária dos países menos desenvolvidos que migra para o norte em busca de melhores oportunidades passa a reivindicar o direito às suas culturas originais", conta.

Segundo ele, essas culturas da diáspora são características da globalização. "Neste contexto, a conexão entre os atores passa a acontecer não só entre cidades e nações, mas entre indivíduos cidadãos. Hoje, quem se conecta são os protagonistas dos Estados, das localidades, das comunidades, das organizações da sociedade civil, das empresas de grande, médio e pequeno porte", afirmou.

Um exemplo disso seria a luta das comunidades de dentro da sociedade americana para ter sua cultura reconhecida. É o caso dos chicanos, dos porto-riquenhos e dos negros que depois de décadas conseguiram firmar suas culturas e ganham projeção com suas expressões artísticas.