Laudo comprova a morte de preso político do regime militar

24/06/2004 - 20h14

Arthur Braga
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O caso mais antigo de um desaparecido político nos órgãos de repressão do regime militar começou, enfim, a ser resolvido. Nesta quinta-feira, a família do operário Vírgílio Gomes da Silva entregou à imprensa um laudo necroscópico, do Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo, datado e com foto, comprovando a sua morte.

Virgílio Gomes da Silva, conhecido na militância política como "Jonas", era militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e foi um dos coordenadores do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, no Rio de Janeiro, em setembro de 1969.

Foi preso pela equipe do capitão Benome Albernaz e levado para as dependências do DOI-CODI de São Paulo, em 29 de setembro de 1969. Apesar dos testemunhos de presos políticos, sua prisão e morte nunca foi assumida pelos órgãos de segurança durante o regime militar. "Jonas" se tornou o primeiro desaparecido político.

O documento apresentado hoje pela família de Virgílio tem data de 30 de setembro de 1969 e comprova sua morte por tortura. No laudo há um aviso, junto à foto do rosto desfigurado de Virgílio, escrito à mão, de que o documento "não deve ser informado", caracterizando a intenção de ocultar o corpo vítima de tortura.

A família de "Jonas" recebeu o documento do jornalista Mário Magalhães, que está produzindo uma biografia sobre Carlos Mariguela. Magalhães encontrou a comprovação dentro dos arquivos do governo do Estado de São Paulo.

A viúva de Virgílio, Dona Ilda Martins da Silva, 73 anos, que permaneceu presa por dez meses, no Dops paulista e no presídio Tiradentes, disse hoje que nunca acreditou na informação dos órgãos de segurança de que Virgílio estava "desaparecido". "Sempre tive esperança de saber o que aconteceu realmente", disse.

Ela lembrou que foi afastada dos filhos Vladimir, na época com oito anos, de Virgílio, com sete e Isabel, com apenas quatro meses, que foram levados ao Juizado de Menores. O outro filho, Gregório de dois anos, ficou com a avó. Emocionada ela disse que "esse documento representa uma esperança, um início para localizarmos o corpo de Virgílio".