Cientista quer Brasil como referência em pesquisa de ponta

05/03/2004 - 22h52

Eliane Izolan
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Transformar o Brasil em um país de referência em pesquisa científica. Esse é o projeto de Miguel Angelo Laporta Nicolelis, 42 anos, coordenador do Laboratório de Neurociências da Universidade Duke, Carolina do Norte, nos Estados Unidos, o maior laboratório de neurociências do mundo.

O brasileiro Nicolelis espera ver em três anos o Instituto Internacional de Neurociência funcionando em Natal (RN), como uma referência mundial na área. "Esse é o primeiro projeto da
história do Brasil voltado não apenas para a ciência de ponta, mas para a ciência como instrumento de transformação social. É hora da ciência brasileira sair de seus castelos abstratos e fazer algo pelo Brasil", afirma Nicolelis.

A instalação do Instituto em Natal não é aleatória. Além de trazer para o Brasil um centro de referência na área, ele quer que a produção científica fuja do eixo Rio - São Paulo, onde
hoje se concentra mais de 70% da produção científica do País.

O Instituto de Natal seria apenas uma primeira etapa. A idéia do cientista é criar pelo menos 11 pólos como este em diferentes áreas, de pesquisas agrícolas a genética, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do País. Para Nicolelis "a ciência de alto nível, particularmente dos cientistas brasileiros há muito tempo radicados no exterior, pode contribuir para a oxigenação da ciência nacional, mas principalmente pode ser um agente de transformação econômica e social em comunidades pobres do Brasil".

O primeiro passo para a construção do Instituto de Natal é a realização do Simpósio de Neurociências, que começou ontem (03/03) na capital potiguar e termina no dia 7. No primeiro dia do Simpósio, a Universidade de Duke repassou 50 mil dólares em apoio à construção do Instituto. Até o final do encontro, a expectativa é conseguir muito mais. Nicolelis estima que serão necessários US$ 30 milhões para a construção do Instituto, sem contar os recursos necessários para a manutenção do centro.

"Queremos criar um modelo novo de gestão científica no Brasil. No exterior, o pesquisador precisa se virar para conseguir o financiamento de seu trabalho. O que quero trazer para o Brasil é essa experiência de captar recursos, principalmente na comunidade internacional que está acostumada a fazer projetos deste porte. Nós queremos fazer uma parceria com o governo
brasileiro, mas não queremos onerar o governo", garante Nicolelis.

Com base nesta filosofia está sendo criada a Fundação Alberto Santos Dumont de Amparo a Pesquisa. Instituição sem fins lucrativos terá como objetivo levantar recursos em todo o mundo. A Fundação contará com escritórios nos EUA, Europa, Japão e Brasil. Quando perguntado sobre as dificuldades que tem enfrentado para concretizar seu sonho, Nicolelis é claro: "o mais difícil é convencer o povo brasileiro de que é possível sonhar algo tão ambicioso quanto isso e não ficar só no sonho, mas realizar".

Há sete anos o pesquisador estuda o sistema de neurotransmissores responsáveis pelo movimento no corpo. Sua pesquisa já conseguiu resultados interessantes em macacos, que com sinais cerebrais conseguem movimentar robôs. Em abril, ele vai iniciar os testes em seres humanos. O pesquisador acredita estar muito próximo da criação de próteses inteligentes, que restaurariam o movimento de pessoas com graves lesões no sistema motor. Sua pesquisa conta com o apoio de celebridades, como Christopher Reeve, ator que representou o Super Homem nos cinemas e depois de um acidente de equitação perdeu quase todos os movimentos do
corpo.