Brasília, 13/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - As histórias dos contos de fada sempre colocam o meio ambiente, com seus animais e plantas exóticos, como algo de dar medo nas crianças. É assim com "Chapeuzinho Vermelho", "Branca de Neve" e "João e Maria". Para exorcizar o medo do bosque e educar as crianças para a ecologia, o professor de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ângelo Machado, resolveu lançar mão da literatura infantil. O resultado são 29 livros de literatura infantil publicados em 15 anos.
Machado foi ao XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, que terminou hoje (13), na Universidade de Brasília, para contar como é descrever o meio ambiente por meio da literatura. Didático e bem-humorado, ele arrancou gargalhadas das platéias adulta e infantil que foram ouvir sua palestra. O escritor e pesquisador conta que um de seus livros mais famosos, "O menino e o rio", surgiu de uma pergunta de uma criança de sete anos de idade, quando foi a uma escola falar aos alunos sobre bacias hidrográficas. "Por que todos o rios são sujos?", foi a pergunta do menino. Como só conhecia rios poluídos, o garoto concluiu que eles eram naturalmente daquele jeito. Os homens, para a inocente criança, limpavam, então, os rios, para que pudéssemos beber de suas águas ou usá-las para o banho. O menino da história verdadeira não só inspirou o tema do livro, como virou o personagem principal, um garotinho levado a conhecer um rio limpo, como os que existem na Serra do Cipó (MG).
Segundo o escritor, as impressões negativas sobre a natureza, muito degradada nas regiões de concentração populacional, é reforçada por muitos livros infantis. "As crianças aprendem a temer os seres maus que vivem na floresta, como o lobo e a bruxa", analisa Machado, que tem uma coleção de 40 versões de Chapeuzinho Vermelho. Algumas são aterrorizantes, como o caso em que a vovozinha é transformada em sopa e a menina é forçada a bebê-la. Fantasias inventadas, segundo ele, na Idade Média, quando "havia realmente lobos nas florestas próximas de casa e não havia babás ou creches para proteger as crianças".
Machado se ressente ainda da ausência quase total da natureza brasileira nas histórias da literatura produzida no país. Ele desenvolveu pesquisa em duas livrarias de Belo Horizonte e encontrou 100 livros que tratam de ecologia, com 64 espécies animais. Apenas 33% eram representantes da fauna brasileira, sendo a maioria da africana. Ou seja, meninos e meninas aprendem sobre leões e elefantes, mas sequer sabem desenhar um tamanduá. "As crianças aprendem a gostar dos bichos dos outros", concluiu. Com a vegetação, ele constatou o mesmo fato. O Cerrado não apareceu em nenhum dos livros, enquanto a Floresta Temperada foi a mais citada e ilustrada.
Os animais que aparecem na literatura infantil são, nessa ordem: em primeiro lugar o elefante, seguido do lobo, do urso, do macaco, do leão, da girafa e da raposa. Machado constata o fenômeno deturpado, mas também quer corrigi-lo em suas obras. Em seus livros, não falta, por exemplo, a libélula, animal pesquisado por ele. Todos têm final feliz e componentes lúdicos, de forma que a criança não confunda com o livro-texto da escola. Alguns autores seguidores dessa linha são Monteiro Lobato, Lúcia Machado de Almeida (tia do escritor) e Ana Maria Machado.
Alguns dos livros de Machado: "Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará", "Que bicho será que botou o ovo?", "A viagem de Tamar, a tartaruga verde do mar", "O casamento da ararinha azul: uma história de amor", "O ovo azul", e "O esquilo esquecido".
UnB Agência