Brasília, 17/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Na abertura da II Jornada África-Brasil, na Câmara dos Deputados, o ministro da Cultura Gilberto Gil falou sobre música negra brasileira, cantou e dançou acompanhado dos músicos angolanos da Banda Movimento, do Grupo Fusão Étnica, Carlos Lamartine e Sirineu Bastos. O evento, que segue até o dia 27 de novembro, visa tratar de questões relacionadas aos afro-descendentes e às relações culturais entre o Brasil e os países da África.
A jornada teve início com a palestra de Gilberto Gil sobre Música Afro-brasileira, no Auditório Nereu Ramos. Ao lado do ministro estavam a deputada Maninha - representando o presidente da Câmara, João Paulo Cunha -, Ubiratan Castro, presidente da Fundação Palmares e Carlos Lopes, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil.
Gilberto Gil diz que mesmo passado tanto desde a abolição dos escravos, os negros ainda não conseguiram se inserir plenamente na sociedade brasileira. Se declarou a favor do sistema de cotas por ser uma tentativa de corrigir as injustiças existentes contra os negros. O ministro defende que "somente com um tratamento desigual seria anulada tal desigualdade".
Em sua palestra sobre música afro-brasileira, Gilberto Gil disse que, por muito tempo, se tentou construir uma padronização da música brasileira e o samba foi considerado uma música tipicamente nacional, ou seja, popular no país, mas que isso não passava de uma "idealização acadêmica". Ele lembrou, ainda, que existem vários tipos de samba, desde o samba de roda e que, muitas outras músicas, como o maracatu, o xaxado e o hip-hop também teriam sofrido influência africana.
O ministro questionou se existiria realmente uma música negra no Brasil. Ele diz que há três formas de ver a questão. Uma delas seria considerar uma música plural, "que realiza sua identidade nos entrelaçamentos culturais que constituem a singularidade da sociedade brasileira"; toda a música interpretada por negros e mestiços a partir de uma percepção e de uma sensibilidade específica da cultura brasileira. Gil propõe, ainda, uma outra possibilidade, a partir da inversão dos termos, e falou sobre o uso cultural da música por negros.
Gilberto Gil é a favor da tese de que é preciso superar a simplificação de ver a música negra apenas como ritmo que faz o corpo balançar: "Para afirmar o nosso modelo de civilização, devemos nos livrar dos preconceitos, dos estereótipos e reducionismos, mesmo aqueles que expressam um certo prazer, mas um prazer rotulado".
Após a palestra, o ministro da Cultura visitou as exposições artísticas e fotográficas que ocupavam as salas e os corredores da Câmara. Passou pelas fotografias de "Agudás, Os Brasileiros de Benim" (Milton Guran) e "Terras de Preto" (Ricardo Teles); pelas exposições "Sagrada Geometria", de Rubem Valentim, e "Caderno de Deus", de Olumello; pelos livros da mostra "A Presença Negra no Circuito Editorial Brasileiro" e pelos mapas sobre "Territórios de Remanescentes de Quilombos no Brasil.