Brasília, 24/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Pesquisadores do "Censo da Vida Marinha", programa interdisciplinar financiado por agências governamentais de 53 países e agências das Nações Unidas, descobriram uma espécie de tartaruga do Pacífico que dá a volta no oceano para perpetuar a espécie. Essa é uma das descobertas apresentadas ontem (23), em Washington, na divulgação do relatório parcial dos estudos realizados até agora.
O projeto teve início em 2000 e levará oito anos para ser concluído. O objetivo da cooperação científica internacional, que reúne 300 cientistas dos países financiadores, é identificar todas as formas de vida marítima e explicar sua evolução ao longo do tempo. Até agora, por exemplo, foram identificadas mais de 15 mil espécies de peixes, algumas delas desconhecidas. Segundo os pesquisadores, é possível que hajam outras 5 mil espécies de peixes.
"O nosso objectivo até 2010 é saber tanto sobre a vida nos oceanos como sabemos agora sobre a vida em terra", disse Ronald O'Dor, biólogo marinho da Universidade de Dalhousie, no Canadá, e principal responsável do projeto, na apresentação do relatório. Atualmente, são conhecidas 210 mil formas de vida marinha, mas, segundo os pesquisadores, o número real poderá ser dez vezes superior. Dentre os peixes identificados até agora, por volta de 500 são espécies desconhecidas. O estudo registrou também 1.700 diferentes espécies de outros animais e plantas aquáticas.
Os cientistas manifestaram, no relatório, inquietação sobre a redução da população de várias espécies de peixes. "Cada espécie de peixe grande selvagem foi pescado de modo tão considerável nos últimos 50 anos que 90% de cada variedade desapareceu", registram os pesquisadores no relatório.
Há descobertas dos integrantes do "Censo da Vida Marinha" com interesse para a pesquisa médica. Na costa da Flórida, Estados Unidos, por exemplo, eles encontraram uma nova espécie de esponja vermelha, conhecida como "esponja rasta", que produz substâncias com potencial para tratar certos tipos de câncer.
Outras descobertas ajudam a entender como funciona o ecossistema marinho. As tartarugas do Pacífico surpreenderam os cientistas pela sofisticação do seu método reprodutivo. Elas começam a volta pelo oceano, depositando os ovos numa praia do México, nadam em seguida até às ilhas Galápagos, se dirigem à Polinésia e ao Japão, e voltam ao ponto de partida pelo Havaí e pela Califórnia. O percurso é feito em dois ou três anos. Na Nova Caledônia, também no Pacífico, foram encontrados em 3 m³ de água, num recife de coral, cerca de 130 mil moluscos pertencentes a 3 mil espécies, muitas delas nunca descritas. (Agência Lusa)